Essas são algumas poucas palavras que me lembro dos estudos do seminário e, também, livros revisitados sobre o assunto. Sei que o momento é de ardor pelo nascimento de Jesus, mas sempre me apego, nessas datas festivas, ao significado de Sua vinda a este mundo, ao nosso espaço humano.
O Natal reflete, mesmo diante de todo contexto cabível ao Império romano ao impor essa data, uma realidade histórica de vida e esperança. O Natal – o nascimento de Jesus sem os adornos capitalistas de consumo – reposiciona a história humana a uma realidade apocalíptica que sempre foi viva na memória e no corpo narrativo dos profetas; portanto sempre viva nas expectativas de um povo oprimido e necessitado de libertação/justiça e de um libertador.
Fala, principalmente, da vinda desse libertador e da libertação que um pobre menino judeu, em Belém, trouxe através de seu tabernacular neste mundo. Fala do cumprimento das profecias e da nova vida que Ele viveu através de sua própria. Fala da renovação da realidade através do Reino que ele encarnou e, futuramente, da renovação de toda a realidade na vindicação e consumação de todas as coisas.
A partir de seu nascimento, sua vida exemplar e profética, morte e ressurreição, podemos falar da esperança que sua estadia aqui produziu nos corações que creram e creem desde lá.
Quem me conhece sabe que sou um crítico das “fraseologias” ou dos “jargões pops” da “evangelicada”. Dizeres como: “Jesus é a nossa páscoa”; “Jesus ressuscitou”; ou ainda “O tumulo está vazio”… Não sou contrário a nenhuma delas, no entanto não as acho, racionalmente, tão contundentes e vivas como são expressas. Nem acho que existam argumentos científicos que provem tal fato (creio ser um fato da história), o que concordo piamente com a historiadora judia Karen Armstrong ao dizer que “ao tentar transforma-se em ciência, a teologia só conseguiu produzir uma caricatura do discurso racional, porque essas verdades não se prestam à demonstração cientifica”.
Um cético ou um ateu neófito invalidaria tais “jargões” com argumentos muito mais racionais e expressivos/preciso que um “crente” platônico e sentimental que leva em sua boca apenas o “Ele ressuscitou”.
A própria psicologia social invalidaria a ressurreição sugerindo a teoria da “dissonância cognitiva”. Outros iriam sugerir que a ressurreição é apenas uma metáfora (não que não seja) de uma experiência religiosa que os cristãos primitivos outrora tiveram por causa da experiência da graça e do perdão, o que permite sugerir inúmeras negações sobre a morte e ressurreição de Jesus.
Ao recorrermos às narrativas evangélicas canônicas, todas as quatro narram sobre a morte e ressurreição de Jesus, o Messias. Independente da lente de cada autor/narrador, a narrativa se encontra presente na tradição cristã primitiva, sugerido por alguns teólogos e exegetas serem essas pré-paulinas (o que evoca o poder de sua memória e de sua oralidade). Mas a evidência que se torna explicita nos evangelhos, principalmente para os personagens da trama é que “Jesus ressuscitou”; e se ressuscitou “ele é o Messias”.
Foi uma fraseologia que se tornou jargão nos moldes que indiquei acima? Foi um jargão presente no contexto judaico? Não, nem um nem outro. Primeiro, porque os discípulos de Jesus nunca entenderam ou suspeitaram de sua ressurreição. Segundo, o contexto judaico não aceitava a premissa de que alguém havia morrido e ressuscitado. Prefiro “acreditar” (racional partindo da fé e não de fatos comprovados), que a ressurreição de Jesus alimentou em seus discípulos a antiga expectativa apocalíptica do Messias, elevando-os ao verdadeiro sentido de sua morte e ressurreição, ou seja, uma nova criação, a vitória de Deus sobre a morte (mal) que foi anulada na cruz e seu retorno à vida.
A essência do Natal tem a ver, num contexto macro, com essa libertação/justiça tão esperada e com a esperança ocasionada pela ressurreição desse menino/homem/Deus, ou seja, um dia o veremos face a face e, assim como Ele é, nós seremos.