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Liturgia livre ou estrita?

Durante alguns anos, enquanto uma igreja de uma denominação diferente da minha cuidava da minha restauração, participei de uma comunidade com uma liturgia estrita. Foi muito chocante e instrutivo. As celebrações, as leituras, as cores. Tudo tinha um propósito pedagógico e trazia um certo ritmo e segurança à comunidade. 

Me parecia isso tudo bastante parado, repetitivo, previsível. Porém, me é necessário reconhecer de que as festas não eram nada previsíveis. A impressão que me passaram era de um povo que conseguia celebrar não apenas as do calendário litúrgico, mas as extraordinárias ou aquelas em que a igreja – como entidade – participava na sociedade ou os jantares informais. Havia um sadio equilíbrio, a meu ver, entre o ritualístico e o comunitário ou entre o sacro e o profano, como alguns gostam de ver. 

Anos depois participei de outras três comunidades de liturgia livre. Se bem os cultos me pareciam mais dinâmicos e festivos, as celebrações (no sentido de festas) eram apenas aquelas organizadas dentro da própria comunidade eclesiástica, não havendo um ponto sequer de contato com a sociedade em que a igreja deveria estar inserida. Era como se fosse apenas um equilíbrio interno, imaginando-se existir um espaço apenas para o sagrado.

Essa falta de trânsito entre o que chamamos de sagrado e o que chamamos de profano fala muito do que pensamos sobre nós mesmos, nossa identidade, nosso propósito e nossa escatologia.

O modelo de Jesus, o Messias, inclui congregação, leitura, oração, reflexão, denuncia, pregação e ação. Tentar limitar isso a um culto de domingo à noite ou pior, a assistir uma mensagem por alguma rede social ou ler um artigo como este sem a comunhão com outros que seguem o mesmo caminho e sem a inserção significativa na sociedade em que vivemos, coloca todo o modelo apenas como isso: um modelo distante e idealizado; uma utopia.