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Um dos ministérios da igreja que se revela o menos compreendido nesta era de abandono sistemático da escritura.

Mais como botequim, menos como o Itamaraty

Em certo canto escondido e sombrio do nosso coração gostamos das coisas regradas e organizadas na igreja. Especialmente se é para os outros. Nisso, gostamos que nossa igreja (e em especial a “dos outros”) se pareça com o Itamaraty.

Porem, do que realmente gostaríamos -mas escondemos- é de ser o que realmente somos. Num botequim cada quem é o que é. A roda de amigos se forma na espontaneidade. Se um dos participantes falar uma burrada, o resto vai dar risada e seguir enfrente.

No botequim a aceitação esta garantida. Já no Itamaraty ela depende do figurino, regras, adequação…

No botequim o que importa são as pessoas ao passo que as instituições são a razão existencial do Itamaraty.

Da próxima vez que pensar a igreja conceitualmente, pense qual modelo sua alma precisa.

Caso esteja difícil, lembre sua última grande crise. Instituições não abraçam, amam, ouvem ou curam. Pessoas fazem isso. Independente de raça, credo, sexo, etc.

Então, meu irmão, meu amigo, meu colega, que a igreja que você constrói, seja mais parecida com um botequim do que com o Itamaraty; mais simples do que bonita; mais acolhedora do que rígida; mais desejada do que obrigada.

A comunhão como fonte da maior riqueza

Salmos 133

A comunhão com os irmãos está em pé de igualdade com a ordenação de Aarão e a chegada dá primavera. Nessas condições, Deus envia a bênção que ele quer sobre seu povo.

Nem sempre quando lemos apreciamos.  É como quem ouve chover e não dá bola a cada gota que cai.

Muitas vezes passei sobre esta passagem da escritura mas esses dias recebi uma perspectiva diferente e por que não, desafiadora, refrescante.

Sempre insistimos no primeiro versículo, “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união!” (Salmos 133:1 NVI) e fazemos bem.  É uma grande vantagem podermos conviver em união.  Cabe, é claro, a analise que para que haja realmente paz, não é só necessária a irmandade mas também o desejo e o esforço de conviver em união.  Nada mais desafiador!  Mas o texto é uma observação.

Em espanhol fica mais claro, ele começa com um imperativo “Vejam quão bom  e quão delicioso é habitarem os irmãos juntos em harmonia” (Livre tradução nossa de Salmos 133:1 segundo RVA1960).  Menciono o espanhol por ser minha língua mãe e para que sirva também que mesmo tendo uma tradução que nos leva a justamente “observar” nunca tinha reparado tal magnifico detalhe.

Óleo de UnçãoMas o que nos pega de surpresa é o segundo versículo “É como o óleo… sobre … Aarão” (Salmos 133:2, NVI)  E ai que começa a coisa. Esse óleo sobre Aarão está fazendo referência -obviamente-  a Levítico 8:30 em que o primeiro sacerdote de Israel é consagrado junto com suas vestes, seus filhos, sua forma de sobrevivência, etc.

A ordenação de Aarão é um marco na história de Israel, é o momento em que o povo visualizava materialmente a profecia de um único e grande mediador que haveria de vir: Jesus.  Ao mesmo tempo, o povo recebia instrução, possibilidade de materializar sua participação no culto ao único Deus; o seu arrependimento podia tomar forma visível; e por igual modo, podia ver que o pecado era pago com morte de um inocente por elencar só algumas coisas.

A vida civil também mudara, já que tarefas antes centralizadas em uma única pessoa, Moisés, seriam agora formalmente divididas.  Assistimos, então, ao momento de formação da nação como tal.  A identidade nacional estava -em certa forma- completa.

Deixemos isso de molho.  Vamos ao monte Hermom.  Precisamos ir porque o versículo 3 nos leva exatamente para lá.  Começa com a mesma fórmula que o versículo 2, ou seja, comparando: “É como..”

Monte HermonO monte Hermom ficava no limite norte da terra prometida conquistada sob cuidados da tribo de Manassés.  Bem, o lindo aqui é que quando o salmista faz uso da sua licença poética o faz em grande estilo.  O “orvalho” que desce do monte Hermom é bem mais do que umas simples gotículas no amanhecer. O cume dele recebe neves durante a maior parte do ano.  Evidentemente que com a chegada da primavera, parte dessa neve se derrete e a água cristalina acaba irrigando as regiões baixas.  O rio Jordão, por exemplo, tem sua origem nessa montanha que por sua vez acaba abastecendo o mar de Tiberíades e deságua finalmente no mar morto.  Em outras palavras, toda a cadeia de produção de alimentos e por consequência as operações de compra-venda de bens se vê afetada pelo “orvalho” do monte Hermom.  A seca virá no final do verão.  O outono e o inverno vão requerer um recolhimento.  Mas a alegria e a expansão vem na primavera.  O Hermom está ali para garantir esse suprimento.

Bem, juntando as coisas o que temos? Que a união dos irmãos está em pé de igualdade com o evento único de ordenação de Aarão e com a regularidade do derretimento da neve do Hermom.

Claro, não somos judeus por nascimento e não conseguiremos nunca entender todas as nuances de um Salmo do jeito que eles conseguiriam fazer por conhecimento direto de causa, por antiguidade, por prática… sei lá, já pensou isso tudo somado à graça?

Porém, eu posso lhe jogar algumas linhas que me parecem interessantes para poder trançar seu pensamento:  1) O evento sob a graça que é equivalente à ordenação de Aarão é a vinda de Jesus à terra, sua crucificação e em especial sua glorificação.  2) Não temos um monte Hermom para cada povo ou nação, porém podemos reconhecer a graça geral que se manifesta na vida do cristão e garante o sustendo de Deus aos seus filhos.

Mas antes do terceiro ponto, deixa mostrar a estrutura com a que enxergo o Salmo para entender porque chego ao terceiro e a razão pela que vou concluir do jeito que vou concluir.

A estrutura é assim:

Repare que conviver em união é bom. É como:

    1. A instituição do sacerdócio, que nos dá identidade nacional
    2. A regularidade do derretimento das neves do Hermom, que nos assegura a colheita.

É ai que Deus envia a bênção eterna

Por isso, que preciso lhe fazer algumas perguntas:

  1. A comunhão com sua igreja local está em pé de igualdade com o culto de domingo à noite?
  2. Ou -mais fundo- a comunhão com sua igreja local está em pé de igualdade no seu íntimo com a cruz de Cristo?
  3. Levamos tão a serio a comunhão com a Igreja e com a igreja local como levamos o serviço?
  4. Ou -mais fundo- as necessidades de afeto, aprovação e aceitação de nosso irmão, são tão vitais como para tirar um tempinho e ir tomar um café com ele?  regularmente?

Qualquer resposta negativa denota que não estamos prontos para receber a bênção que o Senhor nos quer dar.

O mundo neo-pentecostal (que reflete em muitos casos a situação pre-reforma) ensina a grandes gritos e com o exemplo que o ser humano tem direitos perante Deus e que deve correr atrás desses direitos e exigir de Deus.

A sabedoria da Bíblia -até há pouco tempo única regra de fé e prática no meio evangélico- nos ensina exatamente o contrário: Deus é soberano e quer dar sua bênção eterna para seu povo.  Essa bênção só é possível quando entendemos a dimensão e profundidade da comunhão.

A regra é simples: Sem comunhão nada de bênção de Deus.