O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo. Ela é dedicada à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental. A campanha busca quebrar tabus, incentivar o diálogo e apoiar pessoas em sofrimento emocional com ações em todo o Brasil: palestras, rodas de conversa, mobilização em redes sociais, etc.
O tema ganha destaque diante do aumento dos casos de depressão e ansiedade, especialmente entre jovens e adultos, e da necessidade de redes de apoio e acolhimento nas comunidades.
Assim como em tantas outras coisas, a comunidade eclesiástica local, parece que se sente imune a tais situações. Como se a fragilidade da saúde emocional fosse exclusividade do que não pertence à comunidade. Como se procurar ajuda psicológica ou psiquiatra fosse um sinal de falta de fé.
Na realidade, procurar ajuda é de por si um ato de humildade. Procurar ajuda especifica para manter, melhorar ou recuperar a saúde mental, é um ato de gratidão a Deus por ter dado ao Homem a graça de poder desvendar transversal e longitudinalmente as entranhas do emaranhado mental que é a existência.
Doenças mentais, automutilação e suicídio, fazem parte da fragilidade e da dor da existência humana. Muitos são os que se insensibilizam perante a própria dor com escapes de todo tipo, chame-se festas, drogas ou cultos religiosos. Necessariamente “ser humano” é estar exposto ao sofrimento.
Suficiência e necessidade
A grande armadilha de certas formas de fé cristã (promovidas a partir de pessoas que talvez não tenham parado para pensar no próximo nem nas ferramentas que o outro possui ou não) é de que “Cristo é suficiente até para a saúde mental”.
Se bem isso soa bonito e é uma verdade soteriológica essencial, o certo é que – assim como na santidade que não acontece por acaso e sim por dedicação do discípulo – a Bíblia recomenda “Levem os fardos pesados um dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo” (Gál 6:2) e também “Confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para que sejam curados” (Tiago 5:16) e também “Não andem ansiosos por coisa alguma … com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus … guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fil 4:6-7)
Agora, pense que você tem um acidente e quebra uma perna. Eu chego. O que devo fazer? Providenciar atendimento médico ou uma roda de oração para que seu osso seja restaurado?
A mente é como um membro quebrado. Precisa de atendimento especializado e não quem toque de ouvido. O conselho bíblico é essencial neste ponto: “Confessem os seus pecados uns aos outros” Por que escolhi esse texto dos que elenquei logo acima? porque é o mais sensível de todos e vai ajudar a mostrar um ponto essencial aqui: Você, confessaria seus pecados para qualquer pessoa na sua congregação? Óbvio que não. Iria escolher alguém que tivesse já algum tempo de ser bom discípulo, alguém que seja conhecido pela sua discrição e amorosidade no trato com os outros.
Ninguém deseja sofrer — exceto aqueles cuja saúde mental e identidade foram, desde a infância e por meio de diversos traumas, condicionadas a enxergar o sofrimento como algo normal e até desejável.
Partindo desse ponto, podemos enxergar a vida do suicida (e todas suas variantes menores como a auto-mutilação) com maior compaixão. A vida de oração, a amizade da comunidade, as atividades recreativas, exercícios e todo o mais é necessário e ajuda. Mas nada substitui um bom ouvido, um abraço e uma boa terapia.
Finalmente, mas não menos importante, a ressurreição de Jesus (que é o “primogênito dentre os mortos”) nos traz esperança. Não apenas para o futuro distante, mas para o presente concreto. Em outras palavras, a igreja tem um papel bem definido em ser espaço de acolhimento e restauração e não de condena e rejeição de certos indivíduos.
Neste mês de setembro, que seu cuidado para com os que sofrem seja fortalecido pela liberdade que você tem em Cristo — para indicar um bom psicólogo, assim como recomendaria um traumatologista a alguém ferido em um acidente.