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Intolerância religiosa

Escrevo desde um ponto de vista que não é neutro, obviamente. Sou cristão, evangélico e batista. Mas talvez seja essa formação a que melhor me qualifica para almejar tolerância religiosa, pois somos – em certo sentido – frutos da mesma na Inglaterra de 1689.

Não é à toa que a separação igreja-estado é um dos nossos pilares ao ponto que se pode dizer que alguém que se intitula batista não é tal se não luta por esse pilar. A tolerância religiosa está no âmago do estado laico e vivemos, pelo menos nominalmente, num estado laico.

Não que este estado tenha sido formado como laico. A laicidade no Brasil é uma construção recente e justamente por isso desperta em alguns certos temores e anseios por um estado teocrático ou coisa que se lhe assemelhe, mas de preferência uma teocracia cristã ou coisa assim.

Como o mal que não quero para mim não desejo para os outros, me conto entre aqueles que desprezam qualquer tentativa de teocracia. Mesmo as assim chamadas cristãs. Ao meu ver, uma teocracia não passa de uma forma de ditadura e tenho aversão a qualquer forma de ditadura, seja esta de esquerda quanto de direita, ou religiosa.

Então como lidar com isso? Qual a contribuição que como cristãos plenamente identificados podemos dar à tolerância religiosa e por consequência ao estado laico?

Como combater a intolerância religiosa?

CAPÍTULO I Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso
Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo

Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

Artigo 208 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Mesmo sendo a religião um assunto de cunho íntimo, a realidade é que ela acaba se manifestando no espaço comum. Espaço este que muitas vezes lhe queremos negar ao outro, ao diferentes, ao diverso quando nos parece tremendamente essencial a nós mesmos e nossos similares. Então para combater estereótipos e preconceitos uma abordagem abrangente e multifacetada deve ser adotada.

Me limitarei então a pontoar algumas ideias que podem servir para incentivar algum diálogo no seu ambiente. Isto é, em casa, na igreja, no ônibus. Enfim, não quero que concorde comigo, quero que pense.

  1. É essencial aumentar a conscientização e a educação sobre a diversidade religiosa nas escolas e na sociedade em geral. Se não gostamos que as religiões de matriz africana sejam ensinadas nas escolas, então que não se ensine cristianismo também.
  2. É fundamental fortalecer a legislação que combate a intolerância religiosa, protegendo os direitos das vítimas e punindo os agressores. Além disso, para promover o respeito e a compreensão mútua, é fundamental investir em programas de sensibilização e diálogo inter-religioso. Isso nada tem a ver com ecumenismo, mas sim com o fato de compartilharmos o mesmo espaço civil/social.
  3. O outro aspecto importante é o envolvimento das lideranças religiosas, das organizações da sociedade civil e dos meios de comunicação na promoção da tolerância e no combate aos discursos de ódio. Sem os líderes engajados, os liderados irão naturalmente para o lado do ódio. Ou não é isso que entendemos quando falamos de “depravação total do Homem”?
  4. Por último, mas não menos importante, o que ajuda a construir uma sociedade mais tolerante e inclusiva é encorajar a população a participar da defesa da liberdade religiosa e na denúncia de incidentes de intolerância mesmo que no seja “de nosso parquinho”