
Hoje fala-se muito em como é inútil se congregar. A ideia básica é que a instituição oprime e esmaga o indivíduo. Está tão presente a ideia de liberdade e de como ela haveria de se manifestar nos anseios particulares que nos parece uma coisa de loucos o que qualquer instituição religiosa queira fazer com o indivíduo.
Eu concordo com essa ideia. Se a instituição está para esmagar e tirar a individualidade, então ela apenas existe para si tendo-se tornado um fim em si mesma e não merece a atenção de qualquer pessoa. Conheço várias denominações não por te-las estudado academicamente mas por ter participado delas e em cada uma delas se ouve a mesma crítica. Não interessa se ela é pequena ou grande, barulhenta ou calada, liberal ou tradicional; a crítica é a mesma. Misteriosamente é a única instituição que criticamos com tanta veemência. Quando se trata de serviço, por exemplo, engolimos gatos e sapatos pois o sustento vem de lá.
A partir de esse ponto, começamos a construir uma caminhada independentista visando – no melhor dos casos – vivenciar uma vida cristã mais parecida com um ideal de liberdade que nos parece particularmente correto. Não nos resulta justo que se nos diga o que fazer, como fazer ou quando fazer ou com quem fazer. Não nos parece ético que nosso dinheiro seja gasto para ajudar certos indivíduos de caráter duvidoso. Não nos resulta correto que haja tanta gente envolvida nas decisões que – achamos – deveriam ser de cunho pessoal.
Sabe o que? Eu penso assim também. É inútil congregar-se em um lugar onde a injustiça impere, a ética seja fajuta, e percamos nossa liberdade de decisão. Isso não tem nada de cristão nem de certo nem de bom. Liberte-se. Saia. Ou fique para mudar, mas do jeito que está não pode ficar. Sua sã e imaculada consciência cristã o impedem de concordar com isso?. Então, haja.
Nossa sociedade está cada vez mais acostumada a paparico e mimo de tudo quanto é espécie. E -como pertencemos a esta sociedade- não poderíamos ser diferentes. A verdade, está longe de isso tudo aqui. Se bem é verdade que a instituição religiosa é um fardo que deveria ser arrancado e eliminado, não é verdade que o não congregar-se é a solução. Também não serve chamar de congregar-se a qualquer café da manhã feito na casa de algum irmão que compartilhe da mesma ideia (ou não). Também é falaz equiparar o ato de se congregar ao de pertencer a uma instituição religiosa ou ao de trabalhar ou de pertencer ao corpo da paz da ONU. São coisas essencialmente diferentes e é exatamente ali, na descoberta do que é de fato essencial, onde falhamos.
A vida cristã -pelo fato de ser vida- é dinâmica e ela precisa do Espirito Santo para florescer. Não há como espremer em termos suficientemente adequados a profundidade dessa dinâmica na vida do ser cristão. Agora, pense no seguinte: Tem você todos os dons? Está em você toda a plenitude do Espirito? Ou os dons e o Espirito se manifesta na vida de outro ser cristão também. Se a resposta é sim para qualquer das duas primeiras perguntas, arrisco a pensar que você -querido leitor- está longe, bem longe de entender o cerne da coisa. Se for não para qualquer das duas, então porquê renegar da congregação? O que está levando a jovens, adultos e anciãos a renegar do ato de congregar-se?
Bom, entre os elementos justos para deixar de congregar-se além dos já elencados, pode ser o maltrato emocional, a falta de um senso de pertença, a pura ausência de cuidado por conta da correria destes dias e por ai vai. Mas fora isso, o que me parece que está permeando todo esse movimento de abandonar a congregação local, é o simples fato de que temos misturado os conceitos, equiparando instituição religiosa com igreja de Cristo. E isso está bem longe da verdade.
Quando colocamos em pé de igualdade o fato de pertencer a uma determinada denominação com o de pertencer ao corpo de Cristo, apenas declaramos que não entendemos nem uma coisa nem a outra.
Uma pessoa pertence ao corpo de Cristo apenas por crer nele. Essa fé nele se manifesta em obediência regular e gradativa apenas por uma questão de fé: acreditamos que o que Ele espera de nós é bom para nós e o Reino dEle.
Já a vida de relacionamento religioso com uma instituição passa por outros caminhos. De fora parece até a mesma coisa mas não é. A obediência é contra-natura e -se conquistada- há uma tentativa de impor isso aos outros. Não há plasticidade, dinâmica, adaptação, adaptabilidade nem tolerância.
Por usarmos uma figura bíblica, a instituição religiosa está para a conversão, assim como as tendas que Pedro queria montar estava para o fato da transfiguração. Uma outra ilustração que serve, é o da Lei e da Graça. Na instituição há muita Lei e não tem graça. Já na vida cristã há liberdade e responsabilidade.
Quer dizer então que devemos jogar tudo pro alto e abandonar a congregação? Nem de perto.
Entendo que devemos resgatar o conceito simples e profundo do que é a igreja de Cristo e tirar a poeira do projeto original de criar um povo que anda conforme seu coração por graça e não por imposição. Somos salvos não por termos a teologia correta, o culto correto ou a forma de administração corretas mas sim por pertencermos ao povo escolhido. Logo, é com o povo escolhido que quero estar.
Esse povo tem desfrutado da graça; como é que eles vão construir um sistema legalista? Bom, isso é mais comum do que parece. Paulo já enfrentava isso na região da Galácia. A redenção daquele povo era indubitável para o apostolo, mas quando chega a hora, ele deixa claro que tentar voltar à Lei é abandonar a graça. Um não se junta com o outro. Mas toda instituição religiosa quer fazer exatamente isso: substituir a graça com Lei.
Está sem congregar-se? É tempo de revisar seus conceitos. Se tornar uma brasa autónoma é um caminho fácil e bacana de se tornar um carvão apagado. Mancha, fede, mas não esquenta.
Está sem congregar-se? É tempo de se arrepender pois quer dizer que ainda não entendeu o processo de Deus por meio do qual sua individualidade acrescenta e edifica o semelhante ao passo que a própria congregação transforma sua individualidade.
Está sem congregar-se? É tempo de ler de novo as escrituras e clamar por misericórdia. “Deus a quem ama corrige” (Prov.3:12 e Heb.12:6) e nós -seres humanos- somos cheios de nós mesmos e de nossos próprios critérios e a verdade é que não conseguimos enxergar a própria nuca. Ficamos expostos e nem sequer damos a mínima para o que de fato está acontecendo com nós. A falta de correção neste quesito, não indica alguma outra coisa? Pois é, tem que clamar, meu chapa.
É na congregação que a sua alma é modificada. Não por imposição de condutas, maltrato emocional, abandono espiritual, hierarquias humanas, pseudo-cristãos pavões. Todavia, por aceitação, afeto, amor e -sobretudo- serviço ao próximo.
O conselho é antigo e não é meu. Hebreus 10:25 diz claramente “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia“. Sim, leu certinho, congregar-se e encorajamento andam juntos. Não é um serviço pastoral encorajar as ovelhas a se congregarem. É uma responsabilidade de cada um. Até porque se a igreja é composta de pessoas e você é parte da igreja, está se abandonando a si mesmo?