Estava escrevendo o material para uma aula esses dias e lembrei de um ditado: Há duas coisas das quais o homem não escapa: da morte e dos impostos. Refletindo sobre isso – e como era assunto da aula – argumentava do porquê (maquiavelicamente falando) é importante para um governo manter os valores dos impostos em um patamar aceitável. Lembro de ter lido sobre uma regra resultado de uma análise de que até 21% de carga impositiva, é mais barato pagar impostos do que sonegar. Todavia, essa barreira é facilmente transposta quando certos interesses (mormente mesquinhos) se sobrepõem com o qual obtemos o pior dos mundos.
Especificamente sobre a aula que estava preparando, ficava fácil argumentar a razão pela qual as dez tribos judias se sublevaram contra Roboão (filho e sucessor de Salomão) pois ele não quis baixar os impostos mas ainda tornar-se mais duro com o povo.
Então do ditado, me faltava a outra parte, a morte. Ai comecei a escrever, mas acabou ficando muito longo para ser apenas uma nota marginal e por isso decidi escrever este esboço de um artigo que talvez veja em algum outro momento.
Quando uma sociedade começa a não poder saber como, onde, ou de que forma seus mortos são enterrados o terror toma conta da mesma. Isso porque é apenas a morte a que iguala todos os seres humanos.
Uma pessoa pode ter nascido rica, ter crescido bem abastada, frequentar uma boa escola. Mas ai chega um ponto em que ela entende que a sociedade em que vive não faz juz a certos valores que lhe são caros (geralmente associados à liberdade) e começa a lutar por eles.
O regime de plantão primeiro coage, depois censura, após isso trancafia, desterra e… no último dos casos, mata o individuo sumindo com o cadaver.
Com isso, até aqueles que eram contrários originalmente à causa se juntam a ela já que se aconteceu com Fulano, pode acontecer comigo. Ou pior: com meus filhos.
Essa é a razão – em última instância – do encerramento de muitos governos represores e também de certos levantamentos recentes já que é o túmulo (e não o berço) o que iguala os individuos e é ela o ápice do esmagamento de outros direitos.
Baste pensar nos seguintes exemplos em ordem cronológica: a queda dos regimes de exceção na America Latina, o desmembramento dos países do bloco soviético e a primavera árabe. Todos eles tem muitos mortos no porão. As sociedades aguentaram um mundo de coisas. Mas quando chegaram nos mortos, a coisa começou a virar. Pode ter levado anos, mas o silêncio que toma conta da comunicação faz sentir essa virada.
Se nós observamos ao largo e alto da America Latina, há um monte de famílias cuja opção política é contraria àquela que se nega a investigar sobre desaparecidos, mortos sem túmulo, etc. E é isso que modula todo seu pensar já que essas mortes estão grandemente vinculadas com traição ao que lhe é mais íntimo e sagrado.
Mais recentemente o que mais nos afeta socialmente em medio à pandemia da COVID19 é justamente o não poder enterrar o morto sem vê-lo por última vez. Então essas mortes, servem como exemplo e aproximação por analogia para aquelas outras.
Agora, imagine quando se repete a história uma e outra vez de que há um “desaparecido”. Isto é, um morto sem razões suficientes, sem túmulo adequado, sem um momento para a despedida e – via de regra – por razões bizarras. O que pensamos (dizendo ou não) é: “É só uma questão de tempo até acontecer comigo”
É por essas e outras que digo que o ditado popular, mais uma vez, revela algumas verdades muito interessantes. O lance dos impostos o tratarei na aula; mas vejo que essas duas opressões são as que marcam o inicio de uma reação.
Um outro dia gastarei tempo procurando as pesquisas e as referências. (Em especial da barreira de 21%… eu acho que era Indonésia, mas não lembro)