
Me pediram para pensar sobre alguns parágrafos do livro “Pão para o caminho” do padre holandês Henri Nouwen.
Basicamente ele propõe a escrita não apenas como lugar para expressar o pensamento, mas também para buscar o pensamento correto. Não interessa se a escrita é acadêmica ou artística. A escrita tem esses méritos. É um lugar de encontro da identidade, mas precisa ser honesta.
Ele elenca três ideias sobre a escrita: 1) Escrever pode ser uma forma de salvar o seu dia 2) Escrever pode provocar a abertura de poços profundos e 3) Escrever é poder tornar sua vida disponível aos outros.
Evidentemente isso me levou a pensar na nossa relação como sociedade com a escrita e em particular com a comunicação veloz das “redes sociais eletrônicas” (coloco aqui “eletrônicas” para distingui-las das redes sociais que tem na biologia e no tempo-espaço sua manifestação última e podem ou não fazer uso de qualquer meio para se comunicarem ao passo que a “rede social eletrônica” visa apenas a relação à distância – mesmo que estejamos na mesma sala às vezes)
Então, lá vão minhas respostas às três ideias de Nouwen:
A sociedade dividia e cheia de ódios em que vivemos carece de uma boa leitura. Gostaria de dizer que tem sede, mas não seria verdade porque a esmagadora parte da nossa sociedade não mais sente falta de nada por estarem consumindo ódio reprocessado e amplificado pelas redes sociais.
Salvar o dia com a escrita é uma boa, mas Twitter não é uma opção. Porém, escrever se faz necessário não porque haja quem leia, mas por haver quem pensa. Se eu penso (existo) e e registro relembro da minha agonia existencial. Se isso ajuda alguém, bem-vindo seja o corolário.
Perfurar as camadas do pensar para chegar na agonia da vida é uma boa, mas Facebook não está ai para isso. Parece que nosso século tem medo do profundo. Ou talvez seja a conveniencia de alguns já que esse neo-circo da exposição da vida se junta com o neo-pão da pseudo reflexão da rede antes citada. Mas nada de profundidade. Nada que faça a pessoa pensar. Nada que nos faça pensar, chorar, sentir.
E finalmente, Instagram, com sua intenção de mostrar a vida íntima, não chega nem perto de mostrar os escuros rincones da nossa vivência. Esse exibicionismo cheio de malabarismos cênicos que alimenta um certo voyeurismo masoquista apenas aumenta o nível de desprezo, inveja e ódio. Por outro lado, escrever pode ser uma forma de se auto-revelar ao outro sem que seja essa a intenção última. Porém, se é honesto, o escritor vai encontrar talvez algum eco. Eco este que não está presente nos seguidores de plantão. Podem haver mudanças de comportamento, mas não de pensamento.
A escrita demorada, pensada, intimista pode, sim, fazer a diferença, mas apenas naqueles que tenham ainda um pouco de coragem por viver e não se contentem com o pântano raso das redes sociais