O melhor que você pode você desejar para sua cidade é uma mega igreja?

Confessemos; quem não sonhou com una igreja enorme que fosse uma referência na cidade? Já pensou? Você poderia dizer para os outros “Sou da igreja tal. 25, 30% da cidade está lá”.

Imaginou a capacidade de penetração social? Os projetos de grande abrangência que poderiam ser realizados? Conseguiu ver o prefeito da cidade na comunidade? E os dois ou três vereadores da oposição? Seria de inspirar respeito.

Bem sabemos que não dá para analisar todas as razões que nos levam a pensarmos dessa forma mas podemos enumerar algumas que me parecem ser bastante universais.

1) Não gostamos de perder. Somos competitivos por natureza. Queremos ganhar. O primeiro que me diga que concorre em qualquer coisa para chegar em segundo ou terceiro lugar já vou avisando que mente. Concorremos para ganhar: sermos os melhores, os maiores, os mais rápidos, os mais econômicos, os mais inteligentes, os mais bonitos, enfim… AI mais tarde ou mais cedo queremos – não já individualmente mas institucionalmente – sermos os maiores o que por sua vez igualamos com melhores. É isso do que trata o capítulo 18 de Mateus que não por acaso versa sobre a definição de papeis no reino.

2) Amamos o poder. A grande maioria de nós gosta de subjugar o outro seja por força, por ideias, por detração. Gostamos da democracia não porque seja boa para os outros e sim porque ela é boa para mim. Mascaramos esse desejo dizendo para os outros que uma igreja de maior tamanho tem maior capacidade de penetração social e que dessa forma os conceitos do evangelho podem chegar a uma maior quantidade de pessoas. Para mim isso tem outro nome: covardia. Na história inteira um único objeto desestabilizador é muito mais potente que uma grande massa de seres homogeneizados. Pense em como os ditadores (de esquerda e de direita) trataram e tratam com os indivíduos pensantes. Quer penetração social? Deixe que o Cristo mude sua vida por inteiro. A proposta é fazer discípulos (Mt.28:16-20) não montículos de pessoas que não mais pensam por si.

3) Pensamos só nas coisas da terra. O principio do Reino é a necessidade da morte. Ou seja, não há vida sem morte (João 12:24). O mundo no que vivemos está corrompido pelo pecado. Não me refiro aos pecados pontoais que cada um de nós pode cometer ao longo da vida. Me refiro ao pecado como poder soberano sistêmico que controla a forma em que o mundo anda. Não só como os seres humanos andam, mas a criação como um todo. Essa ideia São João a resume na frase “O mundo jaz no maligno” (1João 5). Quando pegamos ideias que funcionam bem neste mundo e as injetamos na construção da igreja local, só estendemos artificialmente o poder sistêmico do pecado para onde achamos que não deveria existir: a Igreja; e acabamos chamando de igreja uma coisa que dista muito da assembleia de seres pensantes que Deus quer construir.

4) Exaltamos a esquizofrenia espiritual. Por um lado dizemos que a manifestação do Reino de Deus é a Igreja em geral e a igreja local em particular. Por outro lado, lhe aplicamos leis que funcionam perfeitamente bem no mundo e esperamos que crie coisas novas. Imagine que houvesse vida em outro planeta e que não fosse baseada no carbono como a nossa. Com certeza a vida seria muito diferente e – principalmente – todos seus conceitos sobre biologia (o estudo da vida) deveriam de mudar, na realidade, deveriam ser reinventados. Assim é com o Reino. Ele trata da vida que havia no projeto original antes da queda e a que está sendo restaurada até a concretização daquilo que chamamos céu (algum outro dia falo sobre isso). Ao não nos desvencilharmos dos conceitos “naturais” sobre-dimensionados e sonharmos com um Reino dos Céus como se fosse apenas um destino vivemos uma divisão maluca que a lugar nenhum nos leva a não ser à auto-exaltação de fazermos parte da mega igreja tal ou qual.

 

Então o que fazer? E eu sei?! Se eu soubesse, se eu tivesse uma receita de bolo para lhe instruir a fazer isto ou aquilo o próprio artigo estaria fadado ao fracasso.  Eu só sei que um dia me apresentarei perante o Senhor. Sei também que ele está querendo construir – a partir das minhas palavras e ações – uma nova realidade que funciona pela fé até a manifestação dele.  Esse dia terei de prestar contas não só de como realizei meu “ministério” (como se de uma coisa separada do resto fosse) mas sim das minhas motivações mais escondidas, das minhas ações e palavras que construíram e destruíram o Reino na vida do meu próximo.

Sobre Esteban D. Dortta

Esteban é um pastor evangélico. Estudou teologia no Seminário Teológico Batista do Uruguai entre 1991 e 1994. Nascido em 1971, vive no Brasil desde 1995. Entende que a liberdade de pensamento, expressão e reunião são essenciais para o desenvolvimento não apenas cristão, mas de toda a sociedade.