O que é mais barato? Uma garrafa de cerveja descartável de 300ml por R$1,19 ou um litro de leite UHT por R$1,38?
Qual vale mais? Qual custa menos?
Estávamos -como de costume- sem dinheiro na fila do supermercado fazendo as contas para ver se a compra tinha sido satisfatória. Fazemos isso porque precisamos chegar no fim do mês comendo mais ou menos bem não por sermos sovinas, tacanhos, seguros, avaros ou coisa parecida;
Aquele dia foi -porém- poético por chama-lo de alguma forma.
Na nossa frente havia umas 10 pessoas no caixa e logo após de chegarmos já se formaram mais seis ou sete pessoas atrás. O interessante era o conteúdo dos carrinhos. O nosso carro tinha o comum de uma família de tamanho médio mais uma caixa de leite comprada fora de época, isso porque naquele supermercado o leite é mais barato na primeira semana mas o mês não tinha começado tão empolgado como deveria, então estávamos dando aquela reforçada.
Já os carrinhos de nossos colegas de fila (de algum modo temos que chama-los) estavam repletos, lotados, transbordantes de cerveja. Falei “Pronto, perdi uma promoção. Onde estava minha cabeça que não fiz a conta direito? Por que não é inicio de mês? cadê a sexta-feira?”
Meio sem graça (e com muito tempo sobrando pela velocidade de decantação da fila) me locomovi até o setor apropriado para ver se eu tinha visto errado. Achei a promoção: Garrafa de cerveja por R$ 1,19. É.. não devia ter visto. Cheguei perto e vi a causa: Era uma daquelas garrafinhas descartáveis de 300ml com conteúdo pré-choco à temperatura ambiente. Ai pensei “Meu, esse povo tá louco mesmo!” “Em que cabeça cabe que isso é uma promoção?” Explico: é de se esperar que em uma promoção você -se bem não ganhe- pelo menos sinta que ganha alguma coisa numa “promoção”.
Voltando de mãos vazias e com um sorriso no rosto, fiquei a pensar nessa catarses de confusão coletiva que estava presenciando. Ou seja, não interessa do que fosse a promoção se tratava de uma daquelas propagandas que estava no umbral do engano beirando a pura sacanagem marqueteira de alguém querendo desovar estoque. Mas tinha dado certo, aliás, muito certo. Todos os caixas estavam cheias de carrinhos com uma duas e até três caixas do produto.
Minha mente, então, se elevou a coisas mais produtivas como os seguintes parágrafos de reflexão que é -ao final de contas- o que uma história tão bizarra nos pode provocar.
O que é que o povo tem por ‘valor’?. Qual o ‘custo’ de uma certa coisa? E o que isso tudo tem a ver com ‘preço’?
Há alguns anos o ‘custo’ de alguma coisa seria a somatória de produção, transportes, estocagem, exposição e mão de obra mais uma margem de lucro. Hoje o ‘custo’ está mais parecido com um chute. Ou seja, na simplificação da coisa ‘custo’ hoje é o que o mercado está disposto a pagar por uma determinada coisa. Levadas as coisas ao extremo, reduzir os custos é reduzir os escrúpulos.
Já ‘preço’ é o que está na etiqueta e que o consumidor final vai levar. Ou seja, é a ponta do iceberg, o frangir dos ovos, a remela dos olhos. Deixamos que nos enganem facilmente derrubando o numero que está na etiqueta e chamando o dia de ‘black-friday’ e mesmo que seja um bom engodo, gostamos de acreditar nele.
E finalmente temos o ‘valor’ que seria o que realmente a coisa comprada acrescenta (ou tira) à nossa vida. Um exemplo extremo ilustra melhor isto. Digamos que uma casa popular (dois quartos, geminada, sem pintar) um carro popular (palio, 1996, pintura desbotada) e a latinha de cerveja estivessem na pratilheira do mercado com uma etiqueta de ‘preço’ idêntica. Qual ‘vale’ mais? Bom, obviamente a que mais acrescenta à vida de quem compra. Então se você está em situação similar à minha, optaria pela casa em primeiro lugar. Mas digamos de que quem compra já tem não uma mas duas casas muito boas, e um ou dois carros do ano… para que considerar a casinha brejeira e o carro que a cada seis meses tem que levar a alinhar ou perde os pneus?
Ou seja, ‘custo’, ‘valor’ e ‘preço’ estão amarrados não intrinsecamente como a propaganda não dita nos pretende adoutrinar e sim com a vida do comprador. Por isso que cada vez mais as ferramentas sociais que consideram a massa são mais relevantes do que a opinião de um único comprador isolado. Como se diz comumente: Uma andorinha não faz verão.
A igreja, por estar inserida no mundo, não está isenta de pensar nesse padrão. O que tanto custou na cruz, por ser de graça, achamos que não vale nada. Pronto, é como diz 1Pd.1:9 por ternos esquecido da remissão de pecados não crescemos. Simples.
Reconstruindo a ideia: nos tornamos frios na fé por não valorizar a origem da mesma. Aquilo ao que não lhe damos valor, achamos que não custa nada e por não custar nada, deve haver coisa melhor.
Tem dois velhos cânticos que nos trazem a ideia que estamos elaborando. Um deles diz “Eu sei que foi pago um alto preço, para que contigo fossemos um meu irmão” e o outro “Eu nunca saberei o preço dos meus pecados lá na cruz”
Tanto um quanto o outro falam de um preço desconhecido, isto é, um custo que o ‘público’ não conhece, sabe ou entende, mas que está ai. Enquanto o primeiro fala de um ‘alto preço’ sem conseguir precisar o quão alto é o segundo fala dos custos desse produto chamado salvação.
Em qualquer caso, o valor que o ‘consumidor’ cada vez mais frequente no ‘supermercado’ neo-evangélico admite pelo produto ‘salvação’ está cada vez mais inócuo pois o desconhecimento (pensamento e prática) estão cada vez mais longe do original. Isso torna a igreja morna. E por isso, vomitável.