Meu filho costuma pensar demais em algumas coisas. Nesse pensar tão livre que só as crianças tem me veio com essa o outro dia: Se existirem alienígenas, eles tem medo da gente?
Para ele o fato de existir ou não vida de um jeito similar à que conhecemos aqui fora do nosso planeta, é um problema secundário de face à possibilidade de serem eles os que tenham medo de nós e não ao contrario.
Bom, de inicio isso arruína certos produtores de Hollywood que tem gasto imensas fortunas (e ganho muito mais ainda) em filmes que evocam o terror no populacho (e em algumas mentes auto-intituladas eruditas), mas abre o leque de opções para os psicólogos siderais de plantão. Que tipo de monstro somos nós os seres humanos que temos a faculdade de arruinar o sono desses alienígenas ainda por conhecer? Alienígenas por conhecer: somos seu maior pesadelo.
E o pior que se formos ver o jeito em que tratamos a natureza que nos é comum, os nossos vizinhos, o bem público, os nossos filhos; se tirassem uma instantânea dos nossos pensamentos mais solitários e livres; se de alguma forma uma tomografia espiritual da nossa alma pudesse ser feita, causaríamos espanto não só nos supostos alienígenas, mas em nós mesmos.
Um dos versículos que mais resisti na vida adulta é o de Jeremias 17:9
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?
Ou como diz a versão católica: Nada mais ardiloso e irremediavelmente mau que o coração. Quem o poderá compreender?
Digo resisti assim a boca de jarro por ser a melhor e mais simples forma de descrever os malabares de interpretação que tinha que fazer para lidar com um texto tão simples e direto. A Navalha de Occam me cortava por tudo quanto é lado, mas eu resistia pois havia em mim uma necessidade diabólica de coerência que me impedia aceitar o obvio: Nosso coração (a base das nossas decisões no antigo testamento) está fatalmente enfermo pelo pecado.
É claro que há algo de Agostinhano na minha atual perspectiva mas não está certo? Não vemos na nossa caminhada que nos pegamos pensando em termos enganosos em incontáveis momentos? Somos então filhos do inferno?
Minha conclusão é que não. Mesmo sendo filhos escolhidos de Deus (assim como os Judeus alvo do texto de Jeremias) amamos o pecado. O cobrimos, acobertamos, e nos auto-enganamos. Quando expostos, negamos, reclamamos, nos lamentamos e renegamos de tudo. Então qual a diferença? O que distingue o impio do cristão?
Bom, a diferença está em que o ímpio sente paz quando consegue safar-se do castigo (mesmo que seja o terreno, até porque não lhe interessa se há ou não outro). Já o filho, só sente paz na confissão. Algumas pessoas se confundem dizendo que o perdão só é dado com base no arrependimento. Se bem é certo que o arrependimento é uma mudança de mente, uma mudança de rumo, uma alteração consciente do sentido que a vida está levando; é certo que o texto bíblico associa o perdão dos pecados (e Do Pecado) à confissão. (1Jn1:9 ou se preferir, NVI)
Por favor, me entenda bem, o arrependimento é necessário, mas a base dessa mudança de conduta é a confissão. Isto é, a concordância com a opinião que o Criador tem ao respeito de nós mesmos e nossas ações.
E eis aqui que temos mais uma coisa: a distinção entre o que fazemos e somos. Modificar o que fazemos não leva a mudanças internas. Uma pessoa pode parar de se prostituir porque é mau para a saúde, ruim para os filhos e péssimo para os negócios mas não porque macula a imagem do Cristo na vida do indivíduo e por consequência na sociedade ou porque é um empecilho no relacionamento com o Deus criador que é santo e não pode compactuar com o pecado.
Já a mudança interna promove uma confissão direta do nosso pacto particular com o pecado como forma de vida, essência e objeto de culto. Por sua vez, é essa confissão a que promove mais mudanças internas que podem abrir o caminho para uma reformulação de caráter em que o Cristo possa aparecer no viver do cristão (mesmo que no inicio seja ocasionalmente) o que por sua vez promove maiores mudanças.
Simplificando: enquanto vivemos sem pensarmos em nós mesmos e na nossa essência, não assustamos ninguém. Assim que pensamos acontece de duas uma: ou nos acomodamos melhor com a própria perdição ou empreendemos uma longa jornada de descoberta do Cristo largamente lastreada no processo de confissão e arrependimento que nos pode levar a uma reformulação do caráter.
Repare na universalidade deste principio. Não está limitado a idade, sexo, bagagem religiosa, localização geográfica ou grau de instrução. Não interessa se você é o diretor bem sucedido de uma excelente empresa que cumpre seu papel com responsabilidade social e civil, ou se é um presidiário cumprindo uma longa pena. Todos nós partilhamos da mesma essência caída em Adão e a graça de Cristo é abundante para te levar do estagio em que você está ao seguinte que ele queira te levar.