A agonia da espera

Ontem, por ocasião do falecimento da esposa de um amigo, tive que fazer uma pequena viagem passando por várias pequenas cidades. Todas elas tinham uma manifestação política. Ou a favor de Bolsonaro, ou a favor de Lula.

Em duas das ocasiões tive, por uma questão de trajeto, que participar na precisão: uma vez com os partidários de Lula e outra com os partidários de Bolsonaro. Tive então a esplendida oportunidade de desfrutar de primeira mão do sentimento das pessoas dentro da fila de carros como os que se encontravam à beira do caminho. Nos dois grupos vi a mesma coisa: uma felicidade indescritível de estar manifestando sua preferência política.

Se pensamos, isso era impossível há apenas algumas décadas. Aqueles que são favoráveis aos governos totalitários, esquecem do valor inegável da democracia. Aqueles que pleiteam por apenas um “estado de direto” em lugar de um “estado democrático de direito” esquecem não apenas a diferença, como nossa história e o que nos custou até chegar a colocar essa pequena frase na própria constituição.

Mas o que quero chamar a atenção sua hoje, domingo 2 de outubro de 2022 logo antes de fechar a eleição, é sobre como tem sido o trânsito da igreja (como instituição e como organismo vivo) nos últimos anos.

Seja como for – e seja qual for sua preferência política – é inegável que nestas horas finais da votação e antes de sabermos o resultado da primeira contagem, deve haver uma certa angustia nessa espera. Com um pais dividido politicamente como temos, é quase impossível ficar apático nesta conjuntura.

Então quero usar essa agonia circunstancial e temporária para lhe voltar a apelar ao pensamento crítico. Mas maiormente ao pensamento auto-crítico. Ou seja, uma reflexão sobre o último quinquénio.

Tenho a impressão de que a igreja (institucional ou orgânica) tem se digladiado por apoiar especificamente uma ou outra linha de pensamento político. Não que não haja necessidade das pessoas se posicionarem mas sim denunciar que a igreja (em suas duas dimensões) tem sucumbido perante os poderes terrenos. Como se a salvação viesse de alguma pessoa em particular ou de alguma linha política especifica.

Então, nessa angustia enquanto espera pelo resultado, pense se não é o caso de fazermos um quinquênio diferente em que o Senhor da Igreja seja de fato o único Senhor e Ungido em todas as esferas da vida.

A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.

Filipenses 3:20

Sobre Esteban D. Dortta

Esteban é um pastor evangélico. Estudou teologia no Seminário Teológico Batista do Uruguai entre 1991 e 1994. Nascido em 1971, vive no Brasil desde 1995. Entende que a liberdade de pensamento, expressão e reunião são essenciais para o desenvolvimento não apenas cristão, mas de toda a sociedade.