Uma “con-vocação” fragil

Quando consideramos o que aconteceu com Abrão (muitíssimo antes de ser chamado de Abraão) vemos que há paralelos com a nossa convocatória. A promessa feita de YHWH para Abrão também foi uma con-vocação: Abrão deveria fazer a si e aos “clãs agrários” o que havia sido feito a ele.


Tal parece que nosso Senhor tem uma queda por planos frágeis. Se somos parte de um grande plano conspiracionista como alguns dizem, este só cumpre com o propósito de exaltar um Deus (supostamente inventado) e rebaixar o ser humano que tão grande coisa se acha.

Esse deus que difere da pletora de deuses da antigüidade e dos atuais decide aparecer de vez em quando e todas as vezes que o faz a proposta é bastante radical. Geralmente os outros deuses demandam sacrifícios de coisas e seres alheios à própria pessoa para obter algum benefício seja comunitário ou pessoal.

Já este outro – o da suposta conspiração – está cheio de placas que apontam a rota de saída do sistema em que o vocacionado se encontra. De Noé a Filemos, a constante é o nadar contra a maré. Não há um lugar para a barganha. Assim como Adão, o chamado é para a obediência e a única opção restante é a desobediência. Claro que as consequências diferem das de Adão, mas se parecem às de Jonas ou às elencadas por Mordecai.

Bem aponta Yuval (seguindo a ideia de Frederico que “Deus está morto”) que os deuses de hoje são de cunho tecnológico e que a religião do momento – o humanismo – está sendo substituída pela veneração dos dados.

Nesse sentido, os deuses que nossa geração é chamada a abandonar são de uma penetração e presença muito mais abrangentes e o desafio do “con-vocado”, maior. Aqueles deuses da região mesopotâmica ficariam lá quando Abrão saísse da sua terra e da sua parentela. Já os atuais os carregamos em pequenos templos eletrônicos no bolso da calça e no coração.


Sobre Esteban D. Dortta

Esteban é um pastor evangélico. Estudou teologia no Seminário Teológico Batista do Uruguai entre 1991 e 1994. Nascido em 1971, vive no Brasil desde 1995. Entende que a liberdade de pensamento, expressão e reunião são essenciais para o desenvolvimento não apenas cristão, mas de toda a sociedade.