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Sobre a vida do líder e o líder na vida.

Observo que frequentemente há uma distância entre aquilo que falamos desde o púlpito e aquilo que o objeto da pregação: a vida de Jesus nas nossas vidas.

Esta não é uma observação apenas nos colegas de ministério, mas sim um olhar constante sobre minha própria caminhada e o cuidado que devo tomar para não ficar tão longe assim do nosso Mestre. De fato, o que mais nos falta não são sermões sobre como deve ser mas sim exemplos de como de fato é. Com suas agruras e desvantagens.

Uma das pessoas que mais me impactou na vida ministerial chama-se Carlos. O jeito calmo de dirigir-se aos membros da sua congregação e como se conduzia na gestão da coisa pública não eram muito diferentes do que ele fazia na vida particular. Era corriqueiro ver ele prestando contas para esposa da mesma forma que o fazia para com a igreja local.

Ele e eu éramos de visões teológicas distintas, mas isso não o impedia de se aproximar e iniciar o diálogo ou de ceder o púlpito, ou inclusive de deixar alguns assuntos sob meu cuidado.

A forma gentil em que conduzia o diálogo em questões candentes impactava por sua firmeza e lisura enquanto manava dele uma doçura ímpar no respeito pelo seu interlocutor.

Certamente nos faltam mais “Carlos” no ministério. Pessoas que vivam o que pregam, preguem o que vivam (com seus lutos e lutas) e se apeguem apenas a Jesus nas questões mais críticas.

Faltam lideres, caramba!

Março 2015 – Visões comparadas sobre Liderança
29-março-2015. Esteban D.Dortta, Pr.

Miqueias, Lucas 10:12

Introdução: Liderança é uma daquelas palavras que não é fácil de ser definida. Ou seja, todos nós achamos que sabemos o que é liderança, líder, liderados, mas na hora de colocar no papel, esbarramos com um monte de conceitos que não sempre representam aquilo que o nosso próximo pensa sobre o assunto. Por exemplo, alguns definem liderança como “a arte de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando de forma positiva mentalidades e comportamentos.” outros ficam com uma tentativa de expressão tão sucinta e reduzida que se limitam a enumerar sinônimos como o dicionario priberam: “Comando, direção, hegemonia” e também há quem diga que liderança “É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum.

Independente da definição que adotemos, mais ou menos todos nós entendemos que um líder é quem leva outros para um objetivo, independente de se o objetivo é bom ou ruim. Pelo fim obtido (que não necessariamente é o fim expresso pelo líder) pode se determinar se um líder é bom ou não. Assim, podemos citar Martin Luther King que reuniu milhares de pessoas numa manifestação pelo fim do preconceito e a discriminação racial pronunciando um dos discursos mais conhecidos da história recente: Eu tenho um sonho. Ou Mahatma Gahandi por exemplo que incorporou os princípios da revolução pacífica promovendo grandes mudanças não só na india como na Inglaterra, a commonwealth e por extensão o mundo todo.

O que você me diria de uma pessoa que reverteu os efeitos de uma guerra devastadora no seu país associados a um grande declínio financeiro mundial, acabando com o desemprego, elevando o PIB em 22%, desenvolvendo a industria e malha viária a patamares nunca vistos; tudo isso em quase quatro anos e sem inflação?

Este homem não só eliminou o emprego (cumprindo assim suas promessas de campanha) senão que manteve o homem do campo no campo – em tempos em que a ideia era exatamente a contraria – e aumentou a produção industrial a níveis tão por cima do padrão que ao final de quatro anos de mandato havia falta de mão de obra. Os efeitos destes quatro anos foram tão bem solidificados que 10 anos depois da subida dele ao poder, o ganho médio do trabalhador havia aumentado em 15% isso sem levar em conta a melhoras na paga por hora extra.

Fora as melhoras financeiras, ele trouxe para seu povo uma melhora generalizada na qualidade de vida promovendo a mobilidade social expandindo grandemente programas de treinamento vocacional e oferecendo incentivos generosos para um maior avanço de trabalhadores qualificados. Não só a paga melhorou, como notáveis melhorias nas condições de trabalho, na saúde, segurança, investimento nos esportes, nas artes em geral e turismo.

(http://inacreditavel.com.br/wp/como-hitler-enfrentou-o-desemprego/)

Já sabe de quem estamos falando?

Isso tudo pavimentou o caminho para que a Alemanha nazista de Adolf Hitler nos levasse a uma das maiores catástrofes mundiais da que se tem memória em que uma das nações mais cultas e – por conta das melhorias antes mencionadas – mais ricas e bem abastadas no final dos anos 1930 se achasse no livre direito de pisar a liberdade alheia.

Quero ilustrar com isto que há lideres em tudo quanto é lugar com os mais variados propósitos e com os mais diversos resultados. Pessoas cultas de dentro e fora da Alemanha se deixaram seduzir por um líder encantador que evocava sonhos de grandeza ao passo que não escondia seus pontos de vista que por sua vez achavam eco no povo germânico. É por isso que nesse caso bem claro da história, lideres e liderados são responsáveis pelas suas escolhas e o resultado dos seus atos.

Há na nossa sociedade uma visão distorcida de que uma liderança só é boa se produz bons, volumosos e visíveis resultados imediatos. Por outro lado, e como contrapartida, vejo que para muitas pessoas não interessa muito se os meios são estranhos ou pouco claros contanto o fim perseguido seja louvável. Isso se aplica tanto à vida social, politica, eclesiástica, empresarial. Como se isso fosse pouco, levamos como sociedade a separação entre vida civil e vida espiritual tão longe que não entendemos por que algumas coisas simplesmente não funcionam.

Se (e preciso frisar esse ‘Se’) Se e tão somente se, acreditamos no que Jesus acredita sobre a Igreja de que é sal e luz para a sociedade, precisamos voltar às bases para trilharmos um caminho diferente.

Proponho então uma leitura rápida do livro de Miqueias. Ele inicia falando de tres reis: Jotão, Acaz e Eszequias:

I) Três Reis, Três sociedades

Estamos na época do reino dividido. Dez tribos ao norte (Israel) e duas ao sul (Judá). Há três reis de Judá que Miqueias menciona: Jotão, Acaz e Ezequias. Ver de uma só vez a vida desses três lideres me parece de suma importância, já que há uma relação direta entre a vida pessoal do líder e as consequências no seu reinado.

A) Jotão. (2Cro.27; 2Reis 15:32-38) Em 777 A.C. ele herda um reino sobre trilhos. Uzias, seu pai, tinha conseguido uma expansão territorial, econômica, cultural e religiosa como nunca antes se tinha visto no reino do sul. Pode se dizer que havia paz e estabilidade. Seu reino havia durado 52 anos e é quando ele morre que Isaias 6:1 recolhe a frase “O ano em que morreu o rei Uzias” como inicio de um lamento pelas dúvidas sobre o futuro da nação … Enfim, Jotão herdou um reino estabilizado. Ele construiu algumas cidades, fortes, torres e reconstruiu a porta norte do tempo de Salomão. As duas frases que mais me chamam a atenção do reinado dele são as seguintes: “Ele fez tudo o que o SENHOR aprova, tal como seu pai, mas ao contrário deste, não entrou no templo do SENHOR” e “O povo, contudo, prosseguiu em suas práticas corruptas”. Claro, para os amantes das frases formulísticas tem a clássica: “Jotão tornou-se cada vez mais poderoso, pois andava firmemente segundo a vontade do SENHOR, o seu Deus

B) Acaz. (2Cro.28; 2Reis 16). Filho de Jotão e neto de Uzias, herda um reino de paz estável (52 anos de Uzias mais 16 anos de Jotão) mas não aprendeu nem com o pai nem com o avô nem com o seu antepassado Davi a servir o Senhor. Durante os dezesseis anos que durou seu reinado só fez tolice.

O texto bíblico registra que “Ao contrário de Davi, seu predecessor, não fez o que o Senhor aprova. Ele andou nos caminhos dos reis de Israel e fez ídolos de metal para adorar os baalins. Queimou sacrifícios no vale de Ben-Hinom e chegou até a queimar seus filhos em sacrifício, imitando os costumes detestáveis das nações que o Senhor havia expulsado de diante dos israelitas. Também ofereceu sacrifícios e queimou incenso nos altares idólatras, no alto das colinas e debaixo de toda árvore frondosa” (2Cro.28:1-4) A insensatez de Acaz, trouxe o abandono por parte de Deus. Parece que enquanto a liderança ainda buscava ao Senhor, ele ainda permanecia perto. Mas quando mais ninguém quer estar com Deus, ele também abandona seu próprio povo: “Por isso o Senhor, o seu Deus, entregou-o nas mãos do rei da Síria. Os arameus o derrotaram, fizeram muitos prisioneiros entre o seu povo e os levaram para Damasco. Israel também lhe infligiu grande derrota.” (2Cro.28:5). Voltarei sobre isso sobre o final desta explanação.

As coisas poderiam ter parado por ai, mas “Acaz apanhou algumas coisas do templo do Senhor, do palácio real e dos líderes e ofereceu-as ao rei da Assíria, mas isso não adiantou. Mesmo nessa época em que passou por tantas dificuldades, o rei Acaz tornou-se ainda mais infiel ao Senhor.” (2Cro.28:21-22) Ler 2Reis 16:10-12 (Construção de um altar em substituição ao que o Senhor tinha instruído a construir)

C) Ezequias. Filho de Acaz, Neto de Jotão. Ele herda um reino devastado pela guerra que o inconsequente do seu pai tinha provocado com seu pecado. Obviamente que não era o filho mais velho de Acaz pois esse tinha sido queimado em sacrifício a um deus pagão. Provavelmente tinha conhecido seu avô Jotão. Dele assim como do seu avô temos o nome da mãe o que me faz supor que haviam mulheres sábias e prudentes por trás destes grandes homens.

O resumo da vida de Ezequias é simples: “Ele fez o que o Senhor aprova, tal como tinha feito Davi, seu predecessor.” (2Cro.29:2) Diferentemente do seu avô Jotão, não há um “porém” depois do resumo.

Era o que chamaríamos hoje de um líder pró-ativo. “No primeiro mês do primeiro ano de seu reinado, ele reabriu as portas do templo do Senhor e as consertou. Convocou os sacerdotes e os levitas, reuniu-os na praça que fica no lado leste e disse: “Escutem-me, levitas! Consagrem-se agora e consagrem o templo do Senhor, o Deus dos seus antepassados. Retirem tudo o que é impuro do santuário. Nossos pais foram infiéis; fizeram o que o Senhor, o nosso Deus, reprova e o abandonaram. Desviaram o rosto do local da habitação do Senhor e deram-lhe as costas …” (2Cro. 29:3-6)

Ele se destaca porque não só promove a reinstituição da páscoa como também procura a comunhão com o resto da casa de Israel. O texto está cheio de ricos detalhes que nos provocam à ousadia e à liberalidade espiritual.

No mais amplo sentido teológico da palavra eleição, estes três faziam parte da escolha que Deus tinha feito em Davi. Os três são da casa real de Davi e herdeiros diretos da promessa dada a ele em que não ia faltar herdeiro seu que ocupasse o trono. Menciono isto porque no contexto de liderança em que estamos falando, é esta ( a liderança ) o último bastião. O povo com facilidade ia atrás dos deuses da própria terra. Se deixavam seduzir e se vendiam por qualquer coisa. Caída a liderança, não restava mais nada. Porém, como mencionei, voltarei sobre isto sobre o final da exposição.

Vale por enquanto dizer que há um relacionamento íntimo entre liderança e liderados que se aplica às democracias, regimes autoritários, igrejas, ditaduras, família, fila de supermercado…

Mas qual é a relação entre liderança e liderados? Quais os princípios que regem esta tensão? Pode existir uma liderança extremamente saudável em um povo completamente corrupto? Há liderados emocionalmente e/ou espiritualmente doentes que possam escolher uma liderança justa, compassiva, ética?

II) A decadência dos lideres denuncia a falência moral e espiritual dos liderados.

A) Tem um refrão espanhol que diz: “A falta de pan buenas son las tortas

(http://cvc.cervantes.es/lengua/refranero/ficha.aspx?Par=58064&Lng=0)

Que poderíamos traduzir assim: “Na ausência de pão, a gente se contenta com bolo de fubá”

Temos a tendência social de nos contentar com lideres de pouca monta. Na realidade, parece que é uma tendência da nossa cultura, procurar alguém que saibamos (ou suspeitemos) que tem o teto de vidro, comprometidos, corruptos ou que ainda está sendo processados pela justiça. Me parece que dessa forma, talvez inconscientemente imaginamos que ele não nos pode cobrar coisa nenhuma. Desse jeito, enquanto uns fazem de conta que lideram, outros se fazem de liderados e juntos acabam com a nação, a escola, a família, a igreja, o que for …

B) Por outro lado e como uma certa consequência do exposto no ponto anterior, os candidatos a serem líderes também vêm em apresentações de moral cada vez mais rala, com passados cada vez mais pesados e a roubalheira (monetária, moral, espiritual) se torna cada vez pior. Não que não hajam líderes sadios mas tal vez por conta dessa saúde, não lhes convida sujar-se com esta ou tal outra situação. Por conta disso, quem é bom, não entra no jogo e quem é mais ou menos acaba por se enredar no jogo da vida. Isso se aplica à vida política, às grandes igrejas como instituições, ao moço que gostaria de estabelecer uma relação com a “filha de fulano” mas que a falta de índole da família vai lhe comprometer a prole e por ai vai…

C) O resultado do relacionamento conspícuo entre um liderado que não quer escolher um líder mais elevado por medo a ser cobrado e um líder que não tem como oferecer coisa melhor porque corre o risco de não ser escolhido, temos um povo que não tem mais senso de destino nem desejo integro de melhora. Quando fala, o liderado aparenta que quer uma certa coisa boa, mas como este discurso é vazio de poder (por se encontrar ancorado em uma vida imprópria e terrena e não nos valores eternos do reino) só consegue se queixar e murmurar. É por isso que na hora do vamos ver, escolhe deputado desonesto, pastor cafajeste, juiz sem-vergonha, marido promiscuo, mulher mentirosa.

D) Aos poucos e quase sem perceber, as sociedades vão se corrompendo. É que nem a história do sapo: quando colocado em uma panela com água quente, ele pula na hora, mas se colocado em uma panela com água à temperatura ambiente e o fogo é acesso, ele morre escaldado sem perceber. Vamos para o bueiro de pouco em pouco cantando vitória, fazendo de conta que reclamamos e dizendo “Está tudo bem, o que é que tem? Todo o mundo rouba, porque eu não?”.

O que fazer então? Como sonhar com uma família melhor, uma igreja mais ousada, um estado mais transparente uma vida mais saudável se esta tensão parece não de desfazer? Lá se vão 20, 40, 60, 80 anos de história recente conhecida de forma direta e indireta pelo nosso povo, mas é sempre a mesma coisa. Tem jeito de melhorar?

III) Assim como a liderança se perde aos poucos, também ela se constrói aos poucos.

A) Sou portador de más notícias: Não há soluções mágicas nem rápidas. Acho que todos nós, em especial o povo evangélico, gostaria de solucionar isso com uma oração de domingo à noite. Uma “oração forte” como o povo costuma dizer. Como muito com uma campanha ou um jejum de 39 dias, uma ida ao monte, enfim, uma solução mágica. Terceirizar a responsabilidade é mais do mesmo. Ou seja, se acreditamos piamente que por orar as coisas vão melhorar e oramos, já cumprimos e “nossa parte”, logo – se as coisas não funcionam – a culpa é da “outra parte”, ou seja, de Deus.

B) Estamos onde estamos por causa das nossas decisões. Temos o conjugue que temos por conta das nossas decisões. Estamos na igreja que estamos e temos o pastor que temos, por conta dos nossos desejos supridos. Usufruímos do presidente, governador, senadores, deputados e juízes que temos, por conta dos nossos silêncios, palavras, atitudes, faltas de atitudes, votos ou não votos da nossa prática democrática que começa na mesa de casa com nossos filhos, amigos e parentes.

C) Não podemos almejar coisas melhores se o discurso é infernal. Ou seja, se falamos uma coisa e fazemos outra. Se escrevemos com a mão e apagamos com o cotovelo. Assim como o melhor conselho para ir à luta é saber não só o tamanho, as habilidades o poder e a disposição de guerra do inimigo, como também conhecer a si mesmo; é mister que reconheçamos o papo infernal quando sai da nossa boca. Papo infernal, é aquele que não é uma posição de fé, de expressão de coisas a serem construídas, de reconhecimento das limitações circunstanciais ou existenciais. O papo infernal é aquele queixume constante sobre a situação sem nada contribuir para a construção do novo. O papo infernal, é o que desconhece o poder do Cristo para construir – a partir da palavra dita – coisas novas. O papo infernal, é aquele treinamento neurolinguístico ao que submetemos nossos filhos, membros de igreja, correligionários de partido político, colegas de serviço e sócios desconstruindo sistematicamente com palavras as ânsias de vida que brotam de qualquer ser criado à imagem e semelhança de Deus garantindo assim que a próxima geração encontrará maiores dificuldades que as nossas perante os mesmos problemas.

D) Se um líder nasce ou se faz não sei. Se é uma arte ou uma ciência, também não sei. Só sei que líderes não brotam do nada nem florescem no vácuo. Esperar por uma solução mágica ou imediata para a desgraça espiritual e a decadência moral é um processo abortivo de resultados garantidos. É – como diz o bolero – “ter perdido o medo à dor, é lutar contra nada na manhã”. A teologia triunfalista não se distingue do pensamento positivo pois ambas duas acham que a partir da minha atitude pessoal as coisas mudam. O certo é que a palavra do Senhor quando pronunciada por sua Assembleia coloca ordem na criação. Ou seja, a identificação do ser humano com a verdade eterna do Deus vivo nos seus pensamentos, conduta, desejos, ações, torna viva e palpável a palavra do criador e por conta disso a ordem entra no caos. A paz é disseminada. A transparência é vista como coisa boa e em resumo, o Reino de Deus interfere na terra que jaz no maligno.

Isso quer dizer que na hora em que falamos com nossos filhos, conjugues, colegas, correligionários e utilizamos essa bagagem espiritual de forma espontânea, nos transformamos em construidores da nova realidade divina.

Assim como a pergunta do soldado para Paulo e Silas ecoa pela história dizendo “Que devo fazer para ser salvo?” assim deve estar fervilhando em seu coração hoje “Que posso fazer pela nossa situação?”

IV) A Igreja presença salvadora de Deus em cada canto.

Novamente, não há soluções mágicas nem rezas miraculosas. A única a ser feita, é o plano original de Deus: que a palavra dele saia e se espalhe pela sociedade.

A) Repare na vida de Odede: 2Cro.28:9-11. Ele estava no lado ruim da história. Sua nação (Israel) tinha se convertido à idolatria. Desde o rei até o mais simples dos súditos estavam entregues a qualquer forma de idolatria e não se importavam em servir a Deus. Quando Peca, rei de Israel vá lutar contra Acaz, rei de Judá, e o vence trazendo 200.000 prisioneiros, é Odede que se interpõe. Com que o faz? Lanças? Espadas? Monta algum tipo de protesto público? Faz uma paralisação? Não. Mesmo sendo esses mecanismos que dependendo da situação podem e devem ser usados, Odede conhecia outra ferramenta: A palavra de Deus dita. Humanamente ele estava fazendo a coisa errada na hora errada no local errado.

B) Assim como Igreja não são as quatro paredes do local de reunião, falar a palavra de Deus não é ficar recitando o pai nosso ou os salmos ou os provérbios dia após dia tornando-se um chato social. Odede pôde falar as palavras que eram necessárias, por estar vendo a realidade desde um outro ponto de vista; por estar em harmonia com o principio criador (ou anti caos) de Deus. Falar a palavra de Deus é mais uma vida em prol dos princípios de Deus que ter uma conduta intachável dentro desses princípios. É mais uma luta constante por exaltar a ordem de Deus contraria ao caos circundante – que é louvado pela esmagadora maioria da sociedade em que se vive – do que ser exemplo constante de ordem e estabilidade. Falar a palavra de Deus é imitar Cristo quando somos humilhados permanecendo de bico fechado contra as injustiças que nos são feitas não retribuindo mal por mal. Falar a palavra de Deus é manter a esperança firme em que em algum momento, o Deus de ordem e paz se fará presente e mesmo no meio do caos ou a partir do mesmo promoverá uma nova criação.

C) Ajudamos a nossa igreja, a nossa família, a nossa sociedade, o nosso bairro e o nosso país a ter melhores líderes, na medida em que assumimos nosso papel de liderança em cada posto que ocupamos. Não imagine que a sociedade não nos vê. Ela sim nos vê e nos julga. Talvez por isso é que nos tenhamos mimetizado tanto nos últimos anos ao ponto tal que não mais nos parecemos com nada. Estamos tão camuflados, tão misturados, tão superficiais, tão irreverentes, tão desgraçados que em nada mais nos distinguimos do mundo. A pregação do mundo entra e avassala a igreja com uma facilidade tremenda. Com inaudita facilidade temos abandonado nosso posto, preferindo o vento da aceitação pública. Temos vendido nossa primogenitura a troco de bananas e a maior parte dos nossos jovens, adolescentes e crianças não sabem mais nem sequer o básico da vida cristã.

D) Temos acreditado no discurso preparado no colo do Diabo que diz que você não pode falar nada nem criticar nada pois antes têm que ter uma vida imaculada. Há duas coisas a dizer sobre isto: 1) A critica tem que estar baseada na palavra cheia de autoridade do Senhor que é criador e chama as coisas que não são como se já fossem e 2) Ninguém pode ter uma vida imaculada e se a tivesse, Cristo seria desnecessário. É por isso que as palavras de Miqueias ao respeito do seu novo reino se tornam relevantes demais: “Farei dos que tropeçam um remanescente e dos dispersos, uma nação forte. O Senhor reinará sobre eles no monte Sião, daquele dia em diante e para sempre” (Miq. 4:7)

E) Não se trata então de nos trancafiarmos num templo durante duas horas por semana para cantarolar algumas músicas, ler um texto sagrado e esperar que alguém nos diga alguma coisa que nos incentive para enfrentar a segunda feira, o cônjuge, o serviço ou a morte. Nem também sermos os chatos incorrigíveis que só falam de Bíblia e não sabem nada sobre a operação lava-jato, o próximo rebaixamento do Corinthians (ou alguém tem dúvidas sobre isso) ou a misteriosa manutenção do preço da gasolina quando o barril do petróleo caiu para menos da metade do valor em poucas semanas no mundo afora. Trata-se então, de experimentar o Deus vivo no aeroporto, no shopping, na praça, no serviço, na intimidade com a família ou num Show de Maria Bethania e ai, como chuva calma, como o suave orvalho matutino, ir derramando da paz e da ordem que nem sequer nossas são e sim do criador.

Conclusão: Nossa sociedade está carente de boa liderança. Estamos indo para o bueiro moral e espiritual a passos largos. Não sou um daqueles saudosistas que pensa que todo tempo passado foi melhor. Também não sou um neurótico que constrói castelos no ar imaginando que arrebentar tudo e construir uma nova sociedade sem nada do antigo seria o ideal. Muito menos sou um psicótico para morar dentro deste castelo isolando-me da realidade que nos golpeia dia após dia por diferentes meios

Apenas me considero um cristão critico que vê que a mesma sequência de eventos se repetem ao longo do devenir histórico de várias sociedades e entendo que cabe à nossa geração pronunciar as palavras e tomar as atitudes (assim, nessa ordem: palavras seguidas de atitudes) que promovam o reino de justiça, fidelidade e humildade que o Senhor está construindo já e agora. Entendo também que nos cabe instruir à seguinte geração neste mesmo intuito da mesma forma em que Adão e Eva instruíram a Caim, Abel e Sete e na mesma forma em que o povo foi instruído (Deut. 6:6-7) a repetir “a palavra” aos filhos. Não que isso nos garanta que os filhos vão conseguir ou querer seguir a trilha deixada, mas sim enfatizar que é essa nossa responsabilidade.

No meu entender, só assim podemos a longo prazo ter esperança de lideres mais sábios e mais sujeitos à palavra de Deus dentro e fora da Igreja de Cristo.

Concluo pois relembrando o que o Senhor opina sobre a seara e os obreiros. Sobre a coisa a ser feita e quem a faz. Sobre o Rei, o reino e seus príncipes:

A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da plantação que mande obreiros para fazerem a colheita.“ Lucas 10:2

Faltam lideres, caramba! by Igreja Pequena on Mixcloud

O marketing e a Igreja

marketingAlguns, sincera e piamente, acreditam não só que é possível mas necessário usar ferramentas de marketing para disseminar a fé no Senhor.
Acontece que nem sinceridade nem piedade são garantia de idoneidade.


Vivemos em tempos em que o marketing e suas técnicas reinam plenipotenciários. Nada do que se vende, compra ou troca está livre de alguma forma de promover as características do produto.

Obviamente que isso não é novo. Basta imaginar dois beduínos sentados em pleno deserto com suas caravanas em suspenso enquanto negociam, para visualizar claramente um falando para o outro que o rebanho sendo negociado, tinha preço equivalente de tantos metros de seda oriental. Nada novo nisso ai.

O problema é a massificação disto. A escala, por usar uma palavra comum ao meio informático. Quem ganha uma venda? Geralmente quem mais e melhor investiu em marketing. Não é a mesma coisa beber um refrigerante marca “palito” do que um que leve a palavra “cola” e faça lembrar a cocaína no nome. Os exemplos são bem conhecidos.

Bem, como de costume, a igreja institucionalizada entende que precisa ir atras do mundo em lugar de simplesmente existir e permanecer. Logo, que melhor ferramenta do que as que o marketing pode oferecer. Rapidamente passamos de oferecer melhores conteúdos para melhores programas, de melhores programas para mais vigorosos encontros e de encontros vigorosos para um melhor Jesus do que os outros tem para oferecer. Como nesta carreira cada um luta como pode (e não exatamente como deveria) isto atinge não apenas as grandes urbes mas também os povoados mais pequenos, provando-se um problema quase que de ordem existencial.

É claro que se uma igreja decide que vai ter tal ou qual programação, nada mais lícito que promover. É obvio que se o local de reuniões será visitado por alguém que a igreja local julgue relevante, nada mais sensato do que falar para os outros, ao final das contas, isso não acontece toda hora.  Mas é ai que o perigo mora.

Empolgado com os “resultados” o povo e seus líderes (ninguém pode dizer ao certo quem começa) vão querer mais. Aos poucos é gestado um departamento de promoções ou -descaradamente- uma empresa de marketing é alugada. Ao final das contas, se se está na chuva é para se molhar e o fim justifica todo e qualquer meio.

Jesus e sua mensagem são colocados então de molho aguardando uma melhor oportunidade para aparecer. Como tem muito visitante, o pastor “sente” da comunidade, do vento, das estrelas ou sei lá do que mais que não pode trazer uma pregação firme ou de denuncia. Está mais para um bom vinho misturado com água do que agua pura ou vinho puro. Ou seja, é uma coisa repulsiva que agrada apenas quem de fato não deveria ser agradado: a plateia.

Me explico. O evangelho não tem a ver com democracia. A administração da igreja pode até ser (e apenas para contrabalancear o culto à personalidade ou limitar o poderio dos cowboys do evangelho ou compartilhar o peso da responsabilidade nas decisões comunitárias) mas o evangelho e sua pregação – isto é, a essência da igreja – não o são. O evangelho foi trazido por revelação divina e apenas subsiste por ser de tal natureza. O evangelho é duro e difícil (se não impossível) para os que estão de fora e a única porta de entrada é o arrependimento, isto é, o reconhecimento profundo e pessoal de ter vivido uma vida longe do Senhor e seus interesses. Suavizar isto é não pregar o evangelho. Logo, ao tentar amenizar a palavra para torná-la palatável ao gosto do ouvinte é apenas eludir a plateia pois por esse caminho vá-se a qualquer outro lugar menos para o Reino.

Então, é ou não é para usar técnicas de marketing na igreja? Bom, eu não posso responder essa pergunta para você. Isso é uma questão de liberdade de consciência. Apenas sei que não quero vir a ser encontrado pelo Cristo tentando “vender” um Cristo massificado e não um Cristo ressuscitado.