Alguns, sincera e piamente, acreditam não só que é possível mas necessário usar ferramentas de marketing para disseminar a fé no Senhor.
Acontece que nem sinceridade nem piedade são garantia de idoneidade.
Vivemos em tempos em que o marketing e suas técnicas reinam plenipotenciários. Nada do que se vende, compra ou troca está livre de alguma forma de promover as características do produto.
Obviamente que isso não é novo. Basta imaginar dois beduínos sentados em pleno deserto com suas caravanas em suspenso enquanto negociam, para visualizar claramente um falando para o outro que o rebanho sendo negociado, tinha preço equivalente de tantos metros de seda oriental. Nada novo nisso ai.
O problema é a massificação disto. A escala, por usar uma palavra comum ao meio informático. Quem ganha uma venda? Geralmente quem mais e melhor investiu em marketing. Não é a mesma coisa beber um refrigerante marca “palito” do que um que leve a palavra “cola” e faça lembrar a cocaína no nome. Os exemplos são bem conhecidos.
Bem, como de costume, a igreja institucionalizada entende que precisa ir atras do mundo em lugar de simplesmente existir e permanecer. Logo, que melhor ferramenta do que as que o marketing pode oferecer. Rapidamente passamos de oferecer melhores conteúdos para melhores programas, de melhores programas para mais vigorosos encontros e de encontros vigorosos para um melhor Jesus do que os outros tem para oferecer. Como nesta carreira cada um luta como pode (e não exatamente como deveria) isto atinge não apenas as grandes urbes mas também os povoados mais pequenos, provando-se um problema quase que de ordem existencial.
É claro que se uma igreja decide que vai ter tal ou qual programação, nada mais lícito que promover. É obvio que se o local de reuniões será visitado por alguém que a igreja local julgue relevante, nada mais sensato do que falar para os outros, ao final das contas, isso não acontece toda hora. Mas é ai que o perigo mora.
Empolgado com os “resultados” o povo e seus líderes (ninguém pode dizer ao certo quem começa) vão querer mais. Aos poucos é gestado um departamento de promoções ou -descaradamente- uma empresa de marketing é alugada. Ao final das contas, se se está na chuva é para se molhar e o fim justifica todo e qualquer meio.
Jesus e sua mensagem são colocados então de molho aguardando uma melhor oportunidade para aparecer. Como tem muito visitante, o pastor “sente” da comunidade, do vento, das estrelas ou sei lá do que mais que não pode trazer uma pregação firme ou de denuncia. Está mais para um bom vinho misturado com água do que agua pura ou vinho puro. Ou seja, é uma coisa repulsiva que agrada apenas quem de fato não deveria ser agradado: a plateia.
Me explico. O evangelho não tem a ver com democracia. A administração da igreja pode até ser (e apenas para contrabalancear o culto à personalidade ou limitar o poderio dos cowboys do evangelho ou compartilhar o peso da responsabilidade nas decisões comunitárias) mas o evangelho e sua pregação – isto é, a essência da igreja – não o são. O evangelho foi trazido por revelação divina e apenas subsiste por ser de tal natureza. O evangelho é duro e difícil (se não impossível) para os que estão de fora e a única porta de entrada é o arrependimento, isto é, o reconhecimento profundo e pessoal de ter vivido uma vida longe do Senhor e seus interesses. Suavizar isto é não pregar o evangelho. Logo, ao tentar amenizar a palavra para torná-la palatável ao gosto do ouvinte é apenas eludir a plateia pois por esse caminho vá-se a qualquer outro lugar menos para o Reino.
Então, é ou não é para usar técnicas de marketing na igreja? Bom, eu não posso responder essa pergunta para você. Isso é uma questão de liberdade de consciência. Apenas sei que não quero vir a ser encontrado pelo Cristo tentando “vender” um Cristo massificado e não um Cristo ressuscitado.