Trabalho como castigo divino

Estava ouvindo o radio hoje cedo e o pessoal tentava tecer um argumento bastante interessante. Se tratava de que, ao impedir o homem de trabalhar por meio de planos assistencialistas, o que se estava de fato fazendo, era impedir o homem -quanto individuo- de cumprir o castigo divino de trabalhar.

Colocando à parte o fato de que sim, concordo em que há um mundo de pessoas que se valem de planos assistencialistas para não se esforçarem e de que do outro lado da corda (aquele que cria estas “oportunidades”) se encontram aqueles que lhes interessa ter essa massa de manobra cativa, pobre, semi-analfabeta, constantemente dependente; colocando à parte isso como dizia, a analise me fez lembrar que há pessoas que pensam piamente que o trabalho (do latim tripalium) seria um castigo divino.

O problema com essa ideia é que não tem sustento no relato bíblico e que era esse justamente o âmago do argumento do radialista. Para tanto usava o já bem conhecido texto de Gênesis 3:19 “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!

O que me tem surpreendido é o imenso número de cristãos evangélicos acreditando que nesse texto se condena o homem a trabalhar.  E digo que me surpreende porque – supostamente – os evangélicos são “o povo da Biblia”.

A coisa é bem simples: Gênesis 2:15 diz “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.” Ou seja, é simples: Deus fez (trabalhou) o universo formou o homem e o colocou (sim, sei, sem que o próprio homem pedisse) para cuidar da criação antes da queda. As coisas novas em Gênesis 3:19 são: O cansaço, a frustração diária, a morte mas o trabalho, isso é anterior.

Resumindo: O trabalho faz parte do plano original do Senhor e é exatamente por isso que dignifica o homem.

Melhorando o argumento do radialista: Impedir o homem de trabalhar para ganhar seu sustento, tira do homem a dignidade que o próprio Eterno lhe quer dar.

Sobre Esteban D. Dortta

Esteban é um pastor evangélico. Estudou teologia no Seminário Teológico Batista do Uruguai entre 1991 e 1994. Nascido em 1971, vive no Brasil desde 1995. Entende que a liberdade de pensamento, expressão e reunião são essenciais para o desenvolvimento não apenas cristão, mas de toda a sociedade.