Arquivo da categoria: Sociedade

Artigos que falam sobre a vida comum, em sociedade.

Soberania e Esperança em tempos de Polarização

Pertenço a uma geração que se acostumou a ver as forças armadas (assim, como instituição centralizadora das três grandes forças) desfilando publicamente nas datas pátrias. Por um lado, e no momento, nos trazia um certo orgulho de ter ditos homens dedicados à defesa do país. Por outro lado, e com uma perspectiva histórica mais apurada, soubemos entender que – por trás daquela imagem de imponência – havia sórdidos usos exagerados do poder.

Seja como for, o fato é que todos os cidadãos compartilham um mesmo carinho pela palavra “pátria”. Que se bem, por um lado é um conceito abstrato e intangível, por outro se vê clara e nitidamente em coisas concretas como solo, constituição, cultura, língua e filhos (Uma leve menção a Nietzsche – “Onde está minha pátria? Onde não sou apenas cidadão, mas também pai, pois só aí começa a pátria.” em Assim falou Zaratustra e que me toca de maneira pessoal por serem meus filhos, todos eles brasileiros…)

Seja por ter caído num sábado. Seja porque não mais cultivamos certos valores por considerar-nos “avançados demais”. Seja por termos ojeriza às demonstrações de poder bélico. O fato é que este sete de setembro passou basicamente desapercebido. Foi só mais um final de semana que – se pelo menos tivesse caído em sexta ou segunda daria para chamar de “prolongado” – em nada nos chamou a atenção.

A não ser, claro, quando consideramos o lema “Brasil Soberano” enquanto manifestações políticas polarizadas tomaram as ruas com pedidos de anistia e debates sobre democracia e justiça.

Isso reflete a tensão em que vivemos com visões diferentes sobre soberania, justiça e reconciliação nacional. Esse debate sobre anistia e o papel das instituições democráticas, expôs as feridas e desafios do nosso Brasil.

Soberania de Deus e Reconciliação Humana

A neo-ortodoxia enfatiza a soberania absoluta de Deus em meio à fragilidade das instituições humanas (Barth) e a necessidade de reconciliação genuína, tendo o amor ágape como seu maior motor ou razão existencial (Nygren)

A cidade de Filipos recebeu o nome em homenagem a Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre o Grande. Mais tarde, porém, sua maior honra foi tornar-se colônia romana. Os que ali viviam não se orgulhavam apenas do passado conquistador de Filipe, mas sobretudo do privilégio de serem cidadãos de Roma. Não ansiavam por deixar Filipos para morar na superlotada capital; ao contrário, era justamente em Filipos que viviam plenamente sua cidadania. A cidade inteira era uma pequena Roma plantada na Macedônia, refletindo em miniatura a cultura, as leis e o prestígio da metrópole.

Em Filipenses 3:20 (carta escrita quase 40 anos após Filipos se tornar colônia romana) Paulo diz a orgulhosos herdeiros de duas grandes e históricas empresas militares: “Nossa pátria está nos céus

Assim como o cidadão filipense não precisava migrar para Roma para ser romana, os cristãos não precisam fugir deste mundo para viver como cidadãos do céu. Eles são chamados a encarnar aqui e agora os valores do Reino de Deus, sendo embaixadores em uma terra marcada pela corrupção, idolatria e divisão.

Se nos afastarmos uns minutos das coisas que nos distraem, e dedicássemos esse tempo a sermos apenas observadores do quadro brasileiro, devemos ser honestos e notar que a sociedade está polarizada, alimentando ódio mútuo.

Outra coisa que precisa destacada, é que a tentação do cristão é ou se isolar (esperando escapar do mundo) ou se alinhar cega e tribalmente a um dos polos.

Porém, o chamado é outro: ser colônia do céu no Brasil, mostrar em nossas relações, trabalho e política uma nova forma de humanidade que não é marcada pelo rancor, mas pelo serviço, amor e justiça. Aqui cabe Nygren: o motor dessa nova humanidade não é o eros da busca egoísta ou da autopreservação, mas do ágape, o amor que se doa gratuitamente, sem esperar retorno, refletindo a própria natureza de Deus

N.T.Wright (de quem extraio o paralelismo de Filipenses) destaca que a verdadeira esperança cristã não está em sistemas políticos, mas na nova criação inaugurada em Cristo.

Aplicação prática diária:

Como a Igreja (não necessariamente a instituição eclesiástica) pode ser agente de reconciliação e esperança em meio à polarização

Algumas ideias: cultivar diálogo em vez de ódio, serviço em vez de autopreservação, e esperança em vez de cinismo político.

Endividamento das Famílias Brasileiras

Dados recentes mostram que quase 80% das famílias no Brasil estão endividadas. E que as famílias brasileiras gastam 28% da renda com dívidas. Quase o triplo da média de países desenvolvidos!

O peso dos juros e o endividamento crescente geram ansiedade, desigualdade e sofrimento, afetando de forma especial os mais vulneráveis.

As teologias da libertação

Seja por puro desconhecimento ou por pérfida porfia, as teologias da libertação tentam atacar este problema desde um plano puramente humano e com uma lógica puramente marxista pintadas externamente de cristianismo.

Não que a luta deles não seja sincera, ou honesta, ou necessária. Mas que mistura dois elementos incongruentes como forma de apaziguar a consciência sem produzir os frutos que tanto dizem almejar. Ou será que, no fundo, estão perseguindo precisamente os frutos que declaram combater?.

Gramsci (que critica aspectos da aplicação prática do marxismo, não Marx em si), ao falar de hegemonia cultural, critica a ideia de transformação apenas por força bruta ou pela imposição direta da economia/política. Segundo ele, a mudança real acontece lentamente, no nível da cultura, da consciência e da moral coletiva. Ou – dito de outra forma – a revolução não viria apenas pela luta de classes armada, e sim pela conquista da cultura, da educação, da moral e da religião, complementando assim o manifesto comunista.

Libertação, Justiça e o Evangelho no Quotidiano Económico

Desprezamos a graça e o amor como forças fracas. E de fato o são, assim como a gravidade é de longe a mais fraca das quatro forças fundamentais da natureza (gravidade, força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca) e é por ela que as coisas não andam boiando ai à baila.

A graça de Deus confronta as estruturas opressoras e chama à responsabilidade social. Teólogos da estatura de N.T.Wright ressaltam que o Evangelho é a boa notícia para os pobres e oprimidos, e que a Igreja (ou seja, não a instituição e sim o corpo de Cristo) deve ser agente de justiça e solidariedade.

Como podemos, agora sim como comunidade local de fé e prática cristã, ser instrumentos de libertação e apoio prático aos que sofrem sob o peso das dívidas? Não será que a crítica de que tratamos das coisas do além, ou da eternidade em detrimento das terrenas e temporais não tem um fundo de razão? E não será que há um pouco de escapismo em pensar em salvação apenas da alma e para a eternidade? Talvez não seja o caso de enxergarmos nas dívidas uma forma prática e urgente de libertar os oprimidos desta geração?

Ao definir seu próprio ministério, o nosso Senhor cita o profeta e diz “O Espírito do Senhor está sobre mim … para proclamar libertação aos cativos…” (Lucas 4:18-19)

Mas também vemos que era uma questão ancestral já proclamada na Lei: “Proclamem liberdade na terra a todos os seus habitantes…” (Levítico 25:10)

E sem lugar a dúvidas era uma preocupação de alguns apóstolos logo depois da assunção de Jesus: “Se um irmão ou irmã estiver necessitado…” (Tiago 2:15-17)

Se há governos interessados em manter o povo escravizado pela ignorância financeira, não deveríamos nós, como igreja, ensinar a verdadeira liberdade que inclui também o uso responsável dos bens?

Qual foi a última vez que na sua igreja houve alguma aula de escola bíblica ou similar sobre educação financeira?

Chamados à infância do Reino: proteger, acolher e formar

Há algo profundamente errado quando uma criança deixa de brincar cedo demais. O fenômeno da “adultização” infantil não é apenas sobre roupas inapropriadas, exposição a conteúdos violentos ou pressões escolares exageradas. É sobre uma infância sequestrada pela pressa do mundo — uma pressa que transforma filhos em miniaturas de adultos ansiosos e pais em espectadores cansados diante da avalanche de telas e discursos.

Robert Raikes
Robert Raikes – Fundador da Escola Bíblica

Antes um pouco de história.

Se tomarmos em conta a Idade Média até o início da Idade Moderna (Séculos V a XVII) observamos que a infância não era vista como uma fase diferenciada da vida. Assim que saíam da primeira infância, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura. Ou seja, usavam roupas semelhantes às dos pais, participavam do trabalho familiar (Tarefas domésticas, oficinas, campo, etc.) e a educação formal era restrita a poucos.

Com o avanço da pedagogia nos séculos XVII-XVIII, do pensamento iluminista e mais tarde de Rousseau, surge a ideia de que a criança é um ser em desenvolvimento, com necessidades próprias. A educação passa a valorizar o ritmo infantil e a infância começa a ser vista como uma etapa específica da vida.

É justamente nesse contexto que surge a primeira escola bíblica em moldes bastante parecidos com as atuais e cujo espirito faríamos bem em resgatar. Robert Raikes (o senhor na imagem anterior. Um anglicano leigo que era jornalista e filantropo) organiza a primeira Sunday School (Escola Dominical). O objetivo era educar as crianças pobres e trabalhadoras, ensinando-as a ler e escrever a partir da Bíblia. E isso acontecia aos domingos, pois as crianças passavam a semana em fábricas. Se bem era um projeto social e missionário, estava longe de ser proselitista. (Hoje temos um problema serio com isso, somos tão mesquinhos que se a pessoa não congrega, não damos ajuda. Uma vergonha)

Se avançamos para o século XIX com a sua revolução industrial, vemos que ela trouxe (a um ritmo alarmante para a época) sérias contradições. Crianças eram exploradas em fábricas e minas, mas, ao mesmo tempo, começaram os primeiros movimentos de legislação protetiva que eram contra o trabalho infantil na Inglaterra a partir de 1833. A escola pública obrigatória (final do século XIX) reforçou a separação entre infância e vida adulta.

Foi durante esse período que o movimento se espalhou rapidamente pela Inglaterra e depois pelos Estados Unidos e outras partes do mundo. Lentamente a ênfase passou de alfabetização para instrução religiosa sistemática. A primeira escola bíblica em solo tupiniquim foi realizada em 1855 em Petrópolis/RJ organizada por Sartah Kalley, missionária escocesa da Igreja Congregacional e esposa do Dr.Robert Kalley considerado um dos pioneiros do protestantismo no Brasil.

Finalmente, no século passado, se consolida a concepção moderna da infância como tempo de proteção, educação e formação. As roupas se diferenciam nitidamente, brinquedos e literatura infantil se multiplicam e convenções internacionais (como a declaração dos direitos da criança da ONU em 1959) cristalizam a infância como categoria própria

A adultização de crianças em solo tupiniquim

Vivemos num país em que, paradoxalmente, se discute tanto a proteção da infância e, ao mesmo tempo, se normaliza a exploração dela. As redes sociais transformaram crianças em produto. A publicidade lhes rouba o encanto da descoberta. O sistema educacional, muitas vezes, lhes impõe competitividade antes de tempo. E nós, famílias e igrejas, ficamos atordoados diante de um cenário onde o “deixai vir a mim os pequeninos” (Mc 10:14) parece ecoar contra nós como acusação.

A Escritura nunca romantizou a infância. Mas Jesus a ressignificou como metáfora da entrada no Reino: dependência, confiança e vulnerabilidade. A criança não é um adulto em miniatura, nem um projeto de consumo. Ela é dom de Deus, herança preciosa (Sl 127:3), chamada a florescer sob cuidado e disciplina que não provoque à ira, mas à vida (Ef 6:4).

A neo-ortodoxia de Barth e Tillich lembraria que não se trata de um problema moral isolado, mas de um sintoma da queda: nossa tendência de instrumentalizar o outro, inclusive os mais frágeis. N.T. Wright acrescentaria que a comunidade cristã é chamada a ser sinal do novo mundo de Deus, onde os pequenos não são explorados, mas acolhidos como protagonistas da fé.

Atitudes necessárias a partir do Reino

O que fazer, então? A primeira resposta não é política pública, embora ela seja necessária. É conversão comunitária: famílias que redescobrem o tempo da escuta, igrejas que não apenas “dão espaço” às crianças, mas reconhecem nelas mestres da fé. Um espaço onde brincar não é perda de tempo, mas sinal de eternidade; onde a formação não é pressão, mas cultivo paciente.

A pressa em fazer das crianças adultos cedo demais revela, no fundo, nossa incredulidade. Não confiamos no tempo de Deus, não confiamos no Reino que cresce como semente em silêncio. Transformamos filhos em fardos ou vitrines, quando deveríamos recebê-los como parábolas vivas da graça.

Se não nos arrependermos, repetiremos o ciclo: filhos cansados, famílias esvaziadas, igrejas sem infância. Mas se ousarmos, como comunidade, recuperar a infância — não apenas a das nossas crianças, mas a nossa diante de Deus — então seremos, de fato, “pequenos” no Reino. E ali, paradoxalmente, encontraremos grandeza.

A Comunidade: Um Espaço de Descanso e Comunhão

Descanso e Comunhão

A ideia de que a comunidade religiosa deve ser um lugar de descanso e comunhão é algo que ecoa profundamente em nossos corações. No entanto, muitas vezes, essa realidade se distancia da prática cotidiana. A frequência no templo, embora seja um aspecto importante, não deve se limitar a uma rotina sem significado. É necessário que o espaço de encontro com Deus e com os outros seja leve, respirável e humano, onde as pessoas possam se sentir acolhidas e apoiadas.

A Visão Bíblica

A Bíblia nos apresenta várias passagens que destacam a importância da comunidade como um lugar de apoio e descanso. Em Mateus 11:28-30, Jesus diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” Essas palavras nos lembram que a comunidade deve ser um refúgio para os cansados e sobrecarregados.

O Templo como Espaço de Encontro

O templo, ou a igreja, deve ser mais do que um local para cumprir uma obrigação religiosa no domingo. Deve ser um espaço onde as pessoas possam se encontrar com o povo de Deus de maneira autêntica. É um lugar onde se pode descansar, sem a pressão de fingir que tudo está bem quando não está. Em Hebreus 10:24-25, lemos: “E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e às boas obras; não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns, mas exortando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se aproxima o dia.

A Comunidade como Refúgio

Para que a comunidade alcance sua finalidade proposta, é essencial que seja um lugar onde as pessoas se sintam livres para serem elas mesmas. Deve ser um ambiente onde se olha no olho, se escuta sem pressa e se abraça sem medo. Em Gálatas 6:2, Paulo nos lembra de que devemos “carregar os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Isso significa que a comunidade deve ser um lugar de apoio mútuo, onde as pessoas se sentem seguras para compartilhar suas lutas e alegrias.

Exemplos e Ações Pontuais

Para tornar a comunidade um espaço de descanso e comunhão, podemos adotar algumas práticas simples, mas significativas:

  1. Grupos de Apoio: Criar grupos onde as pessoas possam compartilhar suas experiências e receber apoio emocional e amparo espiritual.
  2. Atividades Comunitárias: Organizar atividades que promovam a interação e o laço entre os membros, como refeições compartilhadas ou projetos sociais em que a fé tome forma apalpável.
  3. Ambiente Acolhedor: Transformar o templo em um espaço acolhedor, onde as pessoas se sintam confortáveis e à vontade mas sem por isso se sentirem confortáveis com seu próprio pecado. Aliás, é na comunhão da igreja local apenas que se encontra essa mistura poderosa… esse dynamis ou poder-em-ação de Deus.
  4. Mensagens de Esperança: Focar as mensagens religiosas em temas de esperança, amor, aceitação, cura do pecado, redenção.
  5. Mensagens de Transformação: Deus é o primeiro interessado em acolher e receber para uma posterior transformação. Acolhimento sem transformação é apenas “afofar a consciência”. O evangelho é uma mudança radical: uma nova consciência.

Conclusão

A comunidade religiosa deve ser um lugar onde as pessoas possam encontrar descanso, apoio e comunhão verdadeira. Para que isso aconteça, é necessário que o templo seja um espaço leve, respirável e humano, onde todos se sintam acolhidos e apoiados. Ao refletir sobre a importância da comunidade como um refúgio, podemos trabalhar para que ela seja um lugar onde as pessoas possam se sentir livres para serem elas mesmas, sem medo de julgamento ou cobrança. Ao mesmo tempo, é onde o amor leal pode ser mostrado. Deus aceita e transforma. Esse é o âmago.

Alinhados com esse propósito de transformação plena, a frequência no templo se torna uma experiência de comunhão e não apenas uma rotina sem significado.

Informe Kinsey à la Tupiniquim

Um pouco de história

Alfred Kinsey e sua equipe foram responsáveis por uma mudança profunda nas pesquisas sobre sexualidade humana.

Publicado nos Estados Unidos, o primeiro volume, “Sexual Behavior in the Human Male” (1948), e o segundo, “Sexual Behavior in the Human Female” (1953), revolucionaram a compreensão pública e acadêmica sobre o comportamento sexual.

Este estudo trouxe luz sobre a realidade (em comparação com o ideário popular) sobre assuntos tão variados como Diversidade do Comportamento Sexual, Incidência de Comportamentos Homossexuais, Masturbação e Fantasias Sexuais e Infidelidade e Relações Extraconjugais.

O Informe Kinsey foi controverso e enfrentou críticas por sua metodologia e por desafiar as normas sexuais vigentes. No entanto, também foi elogiado por sua contribuição para a compreensão científica da sexualidade.

Para chegar a tais resultados tão diferentes do que era o ideário popular, Kinsey e sua equipe lançaram mão de uma metodologia rigorosa e inovadora para a época envolvendo entrevistas detalhadas e padronizadas para coletar dados sobre o comportamento sexual de milhares de americanos como entrevistas pessoais e questionários estruturados.

Kinsey também fez um esforço consciente para incluir uma amostra diversificada de pessoas de diferentes idades, gêneros, orientações sexuais, ocupações e origens geográficas. Porém, vale ressaltar que a amostra não era totalmente representativa da população geral, o que foi uma das críticas ao estudo.

Seja como for, os entrevistadores foram rigorosamente treinados para que todas as entrevistas fossem feitas de forma consistentes e sem julgamentos visando garantir a precisão e a confiabilidade dos dados coletados.

Após a coleta a equipe tabulou esses dados e usando os melhores métodos estatísticos avançados analisaram as respostas identificando padrões e tendências no comportamento sexual. Esses dados são a base de muitos estudos e também de várias políticas publicas não apenas no grande pais do norte, mas em quase todo o mundo.

O Instituto Kinsey para Pesquisa em Sexo, Gênero e Reprodução foi fundado em 1947 pelo Alfred Kinsey na Universidade de Indiana nos Estados Unidos.


Uma reflexão

Entendo ser um ponto bastante comum dizer que o que é verdade nos Estados Unidos não necessariamente é verdade no resto do continente e muito menos no resto do mundo.

Isso bem pode ser verdade com aquelas coisas que são conseqüências das decisões culturais de cada povo ou nação, mas eu tenho a forte suspeita que até essas decisões são fruto de uma coisa mais profunda e viceral chamada natureza humana. Com isso não necessariamente me refiro a algo que seja completamente natural, mas sim adquirido na sociedade da qual a menor e mais importante representante é a própria família que absorve e promove certos valores ou o que elas acham serem os valores certos.

Logo, devo concluir que informes do tipo dirigido por Alfred Kinsey trazem à tona uma coisa que o teólogo já conhece: o ser humano é completamente depravado. Mas me aguarde antes de tirar suas conclusões tipo rede social. Isso aqui não é para passar por alto rapidinho.

Umas brutalidades

Dois fatos recentes têm exposto em nosso próprio solo a validade não apenas do informe Kinsey, mas de outros similares e da validade da Escritura em pleno século XXI assim como a necessidade de um aggiornamento nos nossos arraiais evangélicos (no excelente e bom sentido da palavra evangélico)

A pandemia de COVID-19 revelou várias coisas. Não apenas o perigoso desleixo com que vivemos a vida política pública representativa (que nada mais é do que isso, uma representação pública da nossa política mais viceral amarrada aos nossos medos e falências) mas também o quão enviesados somos assim como o quanto estamos longe, como famílias comuns, dos ideais que a própria sociedade promulga. Além dessas coisas, a pandemia também revelou o completo descalabro da igreja institucionalizada que demorou a usar os meios de comunicação eletrônicos e insistiu em aberrações sanitárias como a essencialidade do culto publico.

A outra coisa que a pandemia, ou melhor, o isolamento social decorrente da pandemia demonstrou é a incapacidade que temos de lidar com o diferente. Há várias fontes cientificas (isto é, que têm método mensurável por outras) que poderiam ser citadas, mas um bom resumo disso, vem da Anafe ao dizer:

Estudos demonstram que, durante o segundo ano de isolamento social decorrente da pandemia, o número de divórcios feitos em cartórios de notas do país subiu 26,9% de janeiro a maio só em 2021, em relação ao mesmo período de 2020. Se comparado a igual período de 2020, o crescimento foi de 36,35% em 12 meses.

https://anafe.org.br/divorcios-na-pandemia-que-dizem-os-dados/

Esses dados são seguros pois na conformação social em que vivemos, um divorcio formalizado impacta a criação dos filhos, mas – e isso é mais importante para muitos – as finanças do casal que se desmancha.

Então para além desses rompimentos formais, deveriam ser adicionados os informais.

Esta brutalidade da pandemia com todas suas conseqüências, e sendo um evento natural, expôs – como se o recuo das águas de um rio se tratasse – as pedras afiadas que estão no leito.

O que muito afligiu é que a igreja (em particular a ala evangélica em contraposição da fundamentalista) não deveria ter sido pega de surpresa. Ou seja, somos plenamente cientes não apenas da depravação humana (e com isso concordamos com o fundamentalismo) mas também temos acesso e aceitamos informes não ortodoxos como o de Kinsey que nos falam dos problemas e das agruras reais dos relacionamentos para lá dos ideais que pregamos. Voltaremos sobre isso.

As enchentes no Rio Grande do Sul (e é preciso falar em plural não apenas pelo fato ter se repetido mais de uma vez nos últimos anos, mas porque desta vez – em maio de 2024 – se repetiram várias vezes e de forma devastadora em um curto período de tempo) empurrou boa parte da população dos mais diversos estratos sociais a terem de viver e conviver de um modo diverso ao que estavam acostumados.

Se vendo nessa situação de mudança do seu habitat natural, o bicho ser humano manteve seus instintos mais viscerais funcionando em um numero que – espero – não é o total, mas o suficientemente alto como para alarmar. Tanto assim que o próprio governo do Estado do Rio Grande do Sul teve que disponibilizar abrigos separados para as mulheres e crianças numa volta rápida e obvia ao velho ditado de “mulheres e crianças primeiro”.

Nos inúmeros reportes televisados e “youtebizados” aos que assisti, um deles me chamou a atenção em que o repórter ou “youtuber” (não me peça para lembrar agora) mostrava uma rata escapando da agua da enchente. Triste representação gráfica do que acontece não apenas no RS mas no pais inteiro.

É redundante dizer o obvio: a população toda (ou pelo visto a grande maioria) sofre com o que está acontecendo no estado mais ao sul do nosso pais. Famílias inteiras mortas, mulheres e crianças sendo abusadas, casas sendo assaltadas e a infraestrutura tão necessária para a pronta recuperação quase que completamente destruída pelo poder da água.

Esse sofrimento – que já de por si seria terrível – se vê incrementado pela resposta irresponsável de alguns cidadãos. Algumas coisas me chocaram se bem que não mais deveriam porque eu sei que é fruto da mesma árvore e tenho visto esses frutos em repetidas ocasiões das mais diversas formas.

A mais simples dessas e aparentemente superficial é a disseminação de noticias mentirosas, ou fake news. Isso aliado com as teorias conspiratórias. Lia esses dias de que quem vive sozinho é mais propenso a crer e a disseminar teorias conspiratórias. Faz sentido. A noticia mentirosa – que muitas vezes surge como piada, sarcasmo ou informação parcial – encontra seu combustível nos vieses confirmatórios que todos nós temos. Ou seja, todos nós tendemos a aceitar e repetir informação que de alguma forma confirma ou reforça uma crença previa. Se bem ela encontra seu combustível na subjetividade individual, a via pela qual trafega atualmente é a das redes sociais onde um certo espirito de aparente anonimidade governa os usuários das mesmas as que – por sua vez – apenas lhe interessa o lucro sem lhe importar de forma séria e autônoma alguma forma de verificação de fatos. O remédio para isso? O mesmo que para a velha e conhecida fofoca: não repita se não sabe se é verdade. Se a “noticia” confirma alguma coisa que você acredita, desconfie. Se vem por uma rede social, desconfie mais ainda. Se vem apenas da família, tenha todas as reservas possíveis.

A outra coisa que me chocou e que acho cada vez mais repugnante é a falsa ideia propagada em nosso meio (falo do nosso por não ter autoridade para falar de outros, mas presumo que seja parecido) de que essas brutalidades como a tsunami na Indonésia ou a pandemia de COVID-19 ou as enchentes no Rio Grande do Sul são um castigo divino. Ou na sua expressão mais simples, desrespeitosa e carente de conhecimento tanto bíblico como social: “mereceram”ou “bem feito” ou “é castigo divino”

Há pessoas que não tem o mais mínimo temor ao falarem uma coisa dessas. Vamos primeiro pelo lado social. Conheço o povo gaucho. Viajei muito nos estados do Sul com meu pai. Se há algum lugar em que me sinto seguro é com os gaúchos. E não que não me sinta bem ou seguro em qualquer outro lugar já que sei dos anjos que o Senhor coloca em sua providência para cuidar-nos. Mas é que minha vivência com os gaúchos é de viceral confiança.

Lembro de que quando minha primogênita tinha alguns meses a levamos para que minha família a conhece-se. Era julho de 1996. Fomos de Corcel II movido a álcool numa viagem de 1700KM aproximadamente. Chegamos no Chuí, RS no horário limite para poder encontrar um lugar onde deixar o carro e pegar o ônibus para atravessar a fronteira até a casa dos meus pais. Não haviam serviços de internet como agora que pudéssemos ir abreviando tempo. Tinha que ser face a face. Dei uma olhada naquela noite escura e fui num posto de combustíveis que costumava ir com meu pai de pequeno. Fazia uns doze anos que não passava pela cidade. Enquanto orava, olhei para os frentistas e escolhi um. Chamavam ele de “alemão” por razões notórias. Falei “Boa noite, você mora aqui no Chuí, correto?”. Ele me respondeu “sim”. Ai afirmei “Você tem lugar onde eu deixar minha ximbica (já declarando que não morava em RS pois ximbica é carro velho em SP). Quanto me cobra para deixar ele vinte dias?”. Ele olhou assombrado para os lados atrás de mim e atrás dele e falou “Mas você me conhece?”. “Nem um pouco” – lhe disse – “mas conheço quem te conheçe”. Ele terminou de abastecer e me levou até a casa onde larguei o carro após desconectar a bateria e fui correndo para o terminal rodoviário. Quando voltei lá estava meu breguinha azul-calcinha completinho esperando por mim. Bateria conectada e duas partidas depois ele estava em marcha… a álcool e em pleno inverno gaucho.

Se alguém te diz que é merecido por causa do caráter deles, pergunta de imediato pela experiência que eles tem com tal povo. Pode ser que seja superficial, parcial, inexistente ou apenas está repetindo um ódio que recebeu de alguém. Agora, mesmo que alguns se comportem de um jeito inapropriado, é isso motivo de assegurar que é um merecimento para a população em geral?

Me é necessário atacar finalmente o problema do “castigo divino”. Não porque negue o castigo divino, mas porque nego a falta de seriedade e temor com que essa frase é dita. Há uma passagem de simples compreensão na escritura que deveria selar nossos lábios para dizer uma barbaridade dessas:

1 E, naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. 2 E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? 3 Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis. 4 E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? 5 Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis.

Lucas 13:1-5 (ARC2009)

Esse é meu problema. No fundo da expressão “Deus os castigou” está o pensamento de que eles são piores que os outros. Não, os gaúchos são iguais aos nordestinos, aos paulistas, aos paraenses, enfim… No sentido de culpabilidade perante o juiz eterno, somos iguais.

E pensamos assim, ao respeito de tudo, governo, família, opção sexual, religião, etc… Quando acontece uma desgraça nos apressuramos a dizer “E também, com a conduta que têm, o que você esperava?. Merecido foi.” Não apenas ao respeito de uma catástrofe natural, ou do estado do Sul, de tudo e todos. Nos parecemos ao fariseu da parábola:

11O fariseu, em pé, orava em seu íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: roubadores, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este cobrador de impostos. 12 Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.

Lucas 18:11-12 (KJA)

A patética condição humana

Foi a pandemia chegar ou as aguas subirem que se colocaram em funcionamento duas coisas: pessoas realmente interessadas em ajudar o próximo e os aproveitadores de plantão.

Sobre o primeiro grupo, não tenho nada a falar a não ser que nunca é de menos e de que – mesmo a própria tarefa sendo ingrata ou incômoda – o resultado final é muitíssimo bom e agradável. Vale a pena.

Já sobre os outros, gostaria de me distanciar dos pensamentos de segregação como se eles fossem outra coisa que não seres humanos. Precisam sim serem tratados de forma diferenciada porque seus atos (alguns deles bestiais) demonstram o quão baixo caíram e o convívio com o restante da população é impossível. Esse é um desafio constante para a sociedade mas é bem simples de resolver se aceitamos que há inocentes ou que – de fato – há pessoas mais vulneráveis que outras. O velho adagio de “mulheres e crianças primeiro” deveria ter aparecido antes nessa equação.

Agora, o que estes seres de conduta réproba colocam em claro é que a raça humana está degradada. Há os que escondem melhor que os outros. Há alguns que nunca serão tido como pessoas de baixo calão ou de alma imunda. Pelo menos não deste lado da eternidade. E há os outros que – quase como animais – mantêm suas práticas privadas em ambientes de convívio público emergencial. (Como a grande maioria faz nas redes sociais)

Em lugar de assustarmos e apontarmos o dedo, devemos de aceitar que sob a camada idealizada de uma sociedade composta por famílias que funcionam de acordo com um determinado padrão, há uma realidade obscena, suja, violenta que insiste em se manter com vida.

Não que os ideais não estejam corretos. Os ideais estão certos. Mudar os ideais por ideias mais simples é apenas baixar a barra. Diminuir o ideal apenas contribui para descobrirmos novas formas de violência talvez mais sutis e sorrateiras.

Agora, declararmos que vivemos em dissonância com o ideal proposto com a Bíblia, ajuda grandemente na resolução dessa equação. Aliás é apenas o primeiro ponto para uma possível solução. São coisas que devem ser ventiladas em nossas Escolas Bíblicas, nos nossos cultos e nos nossos estudos bíblicos nas casas. Não se trata de abandonar o ideal, se trata de reconhecer que acreditar num ideal não é de forma alguma uma garantia de que nossa construção social está em consonância com ele.

Em algum sentido o ideal bíblico é uma utopia. Ou seja, é um lugar que não existe. Uma fantasia, um devaneio, um sonho. Ou dito de outra maneira: não existem famílias perfeitas. Ficou mais fácil assim? Então, a formula fácil esconde a dificuldade. A utopia nos propõe um local para além da realidade. Ou seja, um ponto no infinito para ser o alvo pelo qual caminhar nesta vida. Alvo este que – sabemos desde o início – não será alcançado em 100%, mas o mais perto que cheguemos do alvo é melhor do que trazer o alvo para níveis mais palatáveis ou “menos utópicos”

As enchentes no Sul, assim como o informe Kinsey, nos escracha uma realidade patética da nossa sociedade que tentei expor brevemente aqui. É uma forma brutal de expor a realidade. O apelo deste pequeno escrito é a lidar com essa realidade sabendo que – assim como o informe Kinsey tem se comprovado na observação de outras sociedades distintas da estadounidense – essa mesma realidade está presente em nossa sociedade em geral e em nossa igreja em particular. Viver em negação além de não ajudar em nada a não ser piorar as coisas, é uma vergonha e perca de tempo.

Derretimento, fluidez, desassossego

Em geral, as pessoas estão fluindo à busca de uma identidade pessoal e de uma religião que se encaixe nessa identidade. Não ao contrário.

O fenômeno pode ser explicado pelas transformações que ocorreram na sociedade e na religião atualmente à medida que a sociedade se torna mais diversa e plural.

A busca por maior autonomia e liberdade religiosa é um dos principais motivos para o desenvolvimento de novas experiências religiosas ou religiosidades não convencionais. Em vez de se vincular exclusivamente com instituições religiosas estabelecidas, as pessoas estão mais inclinadas a explorar diferentes tradições religiosas, práticas espirituais alternativas e formas personalizadas de religião formando assim seu próprio cardápio. Como se deu grande Subway espiritual se trata-se.

Além disso, ideias e práticas religiosas não convencionais têm se espalhado devido a mudanças nas dinâmicas sociais, como a urbanização, a globalização e o impacto da mídia. As tecnologias modernas também ajudaram muito, permitindo acesso a várias opções religiosas e informações.

É importante lembrar que as tradições religiosas cristãs no Brasil continuam existindo, o que mostra que essas mudanças não anulam a importância e o impacto duradouro das religiões tradicionais na sociedade. Mas não é esse meu ponto.

Meu ponto é com aqueles que estão na busca. Essa busca tem seu tempo de validade. Em algum momento você vai envelhecer e descobrir que sim há valores eternos e que sim há “certo” e “errado”. Isso está gravado a fogo no próprio ser humano e não tem como fugir disso.

Nesse ponto, não interessa se é homem, mulher; rico ou pobre; opressor ou oprimido; gay ou hétero; político ou pagador de impostos: todos têm essa lei talhada no próprio coração e não há necessidade que ninguém lhe explique nada. É apenas uma questão de tempo.

Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.
Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei;
Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;
No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.

Romanos 2:12-16

Intolerância religiosa

Escrevo desde um ponto de vista que não é neutro, obviamente. Sou cristão, evangélico e batista. Mas talvez seja essa formação a que melhor me qualifica para almejar tolerância religiosa, pois somos – em certo sentido – frutos da mesma na Inglaterra de 1689.

Não é à toa que a separação igreja-estado é um dos nossos pilares ao ponto que se pode dizer que alguém que se intitula batista não é tal se não luta por esse pilar. A tolerância religiosa está no âmago do estado laico e vivemos, pelo menos nominalmente, num estado laico.

Não que este estado tenha sido formado como laico. A laicidade no Brasil é uma construção recente e justamente por isso desperta em alguns certos temores e anseios por um estado teocrático ou coisa que se lhe assemelhe, mas de preferência uma teocracia cristã ou coisa assim.

Como o mal que não quero para mim não desejo para os outros, me conto entre aqueles que desprezam qualquer tentativa de teocracia. Mesmo as assim chamadas cristãs. Ao meu ver, uma teocracia não passa de uma forma de ditadura e tenho aversão a qualquer forma de ditadura, seja esta de esquerda quanto de direita, ou religiosa.

Então como lidar com isso? Qual a contribuição que como cristãos plenamente identificados podemos dar à tolerância religiosa e por consequência ao estado laico?

Como combater a intolerância religiosa?

CAPÍTULO I Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso
Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo

Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

Artigo 208 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Mesmo sendo a religião um assunto de cunho íntimo, a realidade é que ela acaba se manifestando no espaço comum. Espaço este que muitas vezes lhe queremos negar ao outro, ao diferentes, ao diverso quando nos parece tremendamente essencial a nós mesmos e nossos similares. Então para combater estereótipos e preconceitos uma abordagem abrangente e multifacetada deve ser adotada.

Me limitarei então a pontoar algumas ideias que podem servir para incentivar algum diálogo no seu ambiente. Isto é, em casa, na igreja, no ônibus. Enfim, não quero que concorde comigo, quero que pense.

  1. É essencial aumentar a conscientização e a educação sobre a diversidade religiosa nas escolas e na sociedade em geral. Se não gostamos que as religiões de matriz africana sejam ensinadas nas escolas, então que não se ensine cristianismo também.
  2. É fundamental fortalecer a legislação que combate a intolerância religiosa, protegendo os direitos das vítimas e punindo os agressores. Além disso, para promover o respeito e a compreensão mútua, é fundamental investir em programas de sensibilização e diálogo inter-religioso. Isso nada tem a ver com ecumenismo, mas sim com o fato de compartilharmos o mesmo espaço civil/social.
  3. O outro aspecto importante é o envolvimento das lideranças religiosas, das organizações da sociedade civil e dos meios de comunicação na promoção da tolerância e no combate aos discursos de ódio. Sem os líderes engajados, os liderados irão naturalmente para o lado do ódio. Ou não é isso que entendemos quando falamos de “depravação total do Homem”?
  4. Por último, mas não menos importante, o que ajuda a construir uma sociedade mais tolerante e inclusiva é encorajar a população a participar da defesa da liberdade religiosa e na denúncia de incidentes de intolerância mesmo que no seja “de nosso parquinho”

Sociologia da religião: virtudes e mazelas

E agora, Garibaldi?

A sociologia da religião desempenha um papel fundamental na compreensão da presença e do papel das religiões na sociedade contemporânea. Ao adotar uma perspectiva sociológica, é possível analisar as religiões além dos limites mencionados, oferecendo uma visão mais abrangente e contextualizada.

Em primeiro lugar, a sociologia permite examinar as religiões como instituições sociais que desempenham funções específicas na sociedade. Ela nos ajuda a entender como as religiões se organizam, mantêm valores e crenças, estabelecem relações com outras instituições e influenciam as estruturas sociais.

Além disso, a sociologia proporciona percepções sobre as mudanças na religiosidade contemporânea. Por meio do estudo sociológico, podemos compreender as transformações nas práticas religiosas, nos comportamentos dos fiéis e nas dinâmicas das comunidades religiosas. Isso nos permite refletir sobre as razões por trás dessas mudanças, como a secularização, a diversificação religiosa, o individualismo espiritual e as novas formas de engajamento religioso.

Entendo que a sociologia da religião desmantela um pouco o misticismo que às vezes se aplica à igreja. Obvio que alguns acham isso como sacrílego, mas me parece que acham isso porque lhes convêm o manto de sacramentalidade.

Contudo, tenho vivenciado recentemente, e da mão de colegas amigos, uma releitura social na que, visando um suposto “aggiornamento” do evangelho, destituem este último da sua capacidade de transformar o ser humano. Logo, as ferramentas fornecidas pela sociologia da religião deveriam ser usadas como tais e não como armas nem como boias salva-vidas emergenciais.

Em questões pessoais, ela me serve para entender o próximo quanto ser religioso. Os anseios e buscas são – em última análise – da raça humana (ou das raças humanas a depender do gosto do autor). E é bem humano substituir essa busca última por buscas preliminares.

É ali (na superficialidade da substituição inconsciente do prioritário pelo supérfluo, do último pelo preliminar) que faremos bem em estudar para entender e aproximar; entender o humano na sua ânsia de ser e aproximar o Deus-homem na jornada da nova criação (Rom. 5:12 ss) sem tirar nem pôr no evangelho, que continua sendo o “poder” (e não a energia) de Deus para salvação daquele que crê.

Inclusão cristã

No movimento de Jesus, a mensagem de liberdade e inclusão era uma das características centrais. Jesus desafiou as normas sociais de sua época, acolhendo e convidando todas as pessoas a segui-lo, independentemente de sua origem étnica, status social, gênero ou histórico de vida. Sua ênfase na amorosa inclusão ecoou nas palavras e ações dos primeiros seguidores de Jesus.

No contexto cristão dos dias de hoje, no entanto, ainda podemos identificar movimentos e teologias que, infelizmente, excluem certas pessoas da comunhão dos seguidores de Jesus. Às vezes essa exclusão é feita com base em doutrinas rígidas, diferenças sociais ou culturais, e orientação sexual ou identidade de gênero.

Isso demanda de nós um exercício bem eclético que nos leva para longe do assim chamado fundamentalismo cristão. Fundamentalismo aqui nada mais é do que tirar sempre as mesmas conclusões sem nada haver de novo ou que nos cutuque na leitura e interpretação da escritura.

Todavia, esse movimento não pode ser confundido com liberalismo mesmo requerendo liberalidade amorosa. É aquilo de se arriscar no acantilado para resgatar a ovelha.

Vivemos numa sociedade mimada que confunde o amor com liberdade irresponsável. Por outro lado, observamos que a igreja se vê acuada diante de tanta pressão social que – convenhamos – é uma pressão espiritual. Como se amar não fosse também almejar mudanças! Que o digam os pais que amam seus filhos. (Há aqueles que os detestam e também os que praticam alienação parental. Esses servem como exemplo de como não proceder)

Desde a Torá nos seus lembretes de amar a Deus por cima de todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo que a mesma ideia se vem repetindo uma e outra vez: não deixe que seu próximo vá para a morte. Ou dito de outra forma, Jesus faz menção aos textos do antigo testamento e no contexto de Levitico 19 encontramos o seguinte:

Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele.  

LEVÍTICO 19:17

Então, e antes que diluamos o poder do evangelho em afetos puramente terrenos e agendas antropocentristas, é urgente salientar que essa aceitação do Novo Testamento não é uma inoperante ou ineficiente, mas sim aquela que sacia a alma e transforma a totalidade do ser humano.

Talvez seja tempo de resgatar a velha ideia da theosis a partir do novo Adão que teólogos antigos como Irineu promoviam. Não para uma salvação apenas espiritual da alma no além, mas para uma vida enriquecedora e significativa agora.

Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?”

“Ninguém, Senhor”, disse ela.
Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado“.

João 8:10-11

O povo que andava em trevas…

Engraçada a vida de um político qualquer, digamos, dos que lhes cabe ocupar a presidência.

Há alguns anos, o atual ex-presidente era tido por um Messias. Ele se pensava como o paladino da justiça; o defensor de valores morais; o arauto da verdade; o mensageiro da liberdade verdadeira e por aí vai.

Agora chega o atual presidente e se julga no direito de dizer que “saímos das trevas” (CNN 19/jan/23 – 14:44). Para onde vamos ao sair das trevas? Bem, para a luz, obvio. Parece ser uma fixação dele usar certas falas que não lhe pertencem. Ele (ao ser preso justamente em 2018) já tentou dizer que tinha virado uma ideia… que deixava de ser um homem para ser uma ideia.

Essas coisas que tem o poder, né? Coisas bem toscas e absurdas como tentar substituir o Cristo na vida prática das pessoas.

É verdade (e a verdade não se lhe nega a ninguém) que se viveu um obscurantismo nos últimos quatro anos. Negar isso, faz parte de um esquema Olavista de pensar em que tudo é uma grande conspiração e que é melhor negar tudo, até os fatos (quanto mais as ideias). Então concordamos com o presidente nisso, mas querer sugerir que a luz vem de mão dada de um político. Senhores….


Em terras distantes há um ditado que diz “A culpa, não é do porco se sim de quem lhe coça as costas” significando que se você tem um porco dentro de casa fazendo o que lhe corresponde por natureza, não se lhe pode atribuir culpa ao procedimento, já que ele se encontra ali, na sala da casa, a convite do proprietário. Então se temos os presidentes que temos tido, é por pura irresponsabilidade nossa e a única forma de reverter isso, é o de dia após dia lembrar que os olhos devem estar fixos em Jesus e seus princípios. Políticos são e devem ser trocados como as fraldas (e pelos mesmos motivos) parafraseando a Eça de Queiroz (talvez)

Assim como no governo anterior muitos foram enganados e levados lenta e piamente a acreditar ser o “enviado”, o “escolhido”, o “separado”, assim também hoje podemos ser levados a crer coisas similares e se não cortamos rente e desde o início, depois é tarde.

Tanto aquele que se achava o Messias, como este outro que se acha a luz, ou a ideia, só tem uma pretensão: substituir a missão e função do Cristo (escolhido em grego) no coração das pessoas.

É missão da igreja lutar ferrenhamente contra isso. Era o que Paulo fazia. Segundo ele em Colossenses 1:13 não era o imperador o que nos resgatava de um poder e nos colocava sob outro, e sim Jesus: Cristo e Logos.

Não interessa se o governo é de esquerda ou de direita, a função da igreja é a de se manter alerta contra essa mimetização muito bem pensada do próprio Cristo.

Pense nisso… rápido