Tempo de eleições se presta para a manifestação da mais pura das imbecilidades: A espera por um messias.
Antes que abandone a leitura, deixe-me lhe dizer que não estou com isto desacreditando do Messias Jesus ou alguma coisa parecida mas sim enfatizar que é tosco esperar por uma única pessoa que salve a nação. Se formos ver era isso mesmo o que se esperava de Jesus no seu tempo e os seus próprios discípulos não entenderam que se tratava de um outro tipo de Reino e não um sujeito ao padrão terreno. Neste sentido, até ele mesmo teve que ‘desconstruir’ a ideia de um Messias terreno.
Mas voltando no nosso assunto; independente se você polariza para esquerda ou para direita, no fundo, espera por um ‘Salvador da Pátria’. Alguém que vai botar ordem e progresso onde -aparentemente- só há desmando e atraso. Esta ideia de um ‘Salvador da Pátria’, se junta com a outra de ‘Isto só acontece no Brasil’. É mais ou menos um sentimento de inferioridade coletivo associado ao ‘complexo de Gabriela’: nascemos errado, logo sempre seremos errados. Duas falacias separadas apenas por uma vírgula.
Brasil não nasceu errado. E mesmo se tivesse nascido, não está por isso condenado a estar errado o resto da sua existência. O mesmo se aplica aos outros países das ex colônias hispano-portuguesas assim como às holandesas, britânicas, francesas.
Se o problema está na gênesis da nação, logo, apenas quem pudesse mudar esse inicio é que poderia mudar as coisas. Já se o problema está no coletivo inferiorizado, apenas alguém que pudesse mudar a identidade essencial do povo como um todo é que teria as chances necessárias para mudar a atual situação. É por isso que – ao meu ver – esperar por um messias (de esquerda, direita, centro) é tolice. Na realidade está mais para um auto-engano ou cândido desconhecimento que outra coisa.
Pode ser desconhecimento por se ignorar os procederes necessários a uma democracia, suas negociações intrínsecas, seus diálogos necessários. E não me refiro com isto ao aproveitamento sistemático da máquina democrática por assim dizê-lo. Me refiro a que -na mesa da democracia- o diálogo e a negociação são essenciais. Logo, ao esperar por um ‘Salvador da Pátria’ se espera em realidade por alguém que com pulso firme coloque as coisas no eixo. Sim, é verdade que as coisas estão fora de eixo. Sim, é verdade que o Estado tem sido tomado por assalto. E sim, é verdade que isso não acontece apenas na ‘Pátria amada’, acontece também na ‘Terra dos Livres’ assim como na ‘Pátria Livre’ das estepes siberianas. Todavia, nada disso justifica o sacrifico da democracia. Muito pelo contrario, é a atual situação a que clama por uma democracia forte. Talvez com revisões, mas mais forte. Talvez uma democracia mais chegada ao povo comum, ao empresário local, ao dono de casa, à chefe de família, mas democracia no fim das contas.
Pode ser auto-engano. Mas não qualquer coisa, um auto-engano bem orquestrado com intervenção de um forte viés de negação da própria realidade. Um engodo de tal tamanho que nos parece ser real. Por exemplo, é bem provável que lhe falte coragem para fazer as mudanças na sua vida pessoal que lhe levaria a trilhar um caminho diferente (não necessariamente melhor, isso o tempo vai dizer). Faltando essa coragem no âmbito pessoal, é de se entender a necessidade de um ‘Salvador da Pátria’. É uma simples inversão da ideia de que ‘a culpa é dos outros’ ao colocar ‘a responsabilidade em apenas um’. Pensa-se que se há um único homem com responsabilidade e valor suficientes, as coisas vão se encaixar. Se adiciona a isso o lance do ‘caráter’… fulano é integro. Na verdade você não faz ideia do caráter do fulano, apenas precisa acreditar em alguma imagem que a mídia ou o marketing vendem, isso se junta com sua inabilidade no mundo democrático, se soma à letargia e pronto, temos a receita pronta para um ‘Homem de Deus’ (de esquerda, direita ou centro) que vai salvar o mundo.
Veja se isso não se repete nos filmes que assiste, nos times de futebol, no banco da sua escolha, na escola que escolhe para os seus filhos…. sempre há a ideia de que um único lance, um único jogador, um único mocinho, uma única peça vai solucionar o todo quando o o todo é -por natureza- caótico.
Então que rumo tomar? Se não há messias, se o simples fato de associar as soluções dos problemas à escolha correta ou errada de uma única pessoa já está errada, o que fazer? Como atacar o caos com uma única bala? Porque eu não sei se reparou, mas você sim tem uma única bala (marcada) a cada quatro anos e o caos é enorme. Como um simples votante pode pôr isso tudo ao vento e arejar a coisa de vez?
Voto em branco ou nulo é suicídio. É jogar à roleta russa com o pais. É uma irresponsabilidade tamanho casa pois o que conta é o total de votos válidos. Logo, para alguém responsável é uma opção inviável.
Perguntar ao seu xamã, pajé, pastor, padre, agiota, em quem vai votar, é mais tolo ainda, já que o cara não tem uma bolinha de cristal para saber o certo ou errado. Ele está tão confuso, angustiado e cansado como você.
Colocar todos os candidatos numa sacola e sortear é melhor do que a pergunta porque pelo menos não passa vergonha. É menos irresponsável porque pelo menos é a ‘sorte’ a que decide. Mas serve apenas como ponto de partida, para as próximas eleições você vai ter que voltar às raízes.
Me explico: Para mim a solução não passa por um messias ou uma consulta aos seus iguais ou um sorteio. A solução para o caos é adicionar caos à equação e para isso é necessário voltar à raiz da democracia. Não há necessidade de novas leis nem nada. Apenas saber o seguinte: Quando Solon -pai da democracia- inventou esse lance do povo ter o poder, o fez sobre bases representativas e -olha só- um candidato eleio podia ocupar um determinado posto apenas uma única vez na vida. Olha que beleza, quando este homem inventou o lance, conhecia muito bem a natureza humana e sabia que ia dar errado. Por isso, colocou o melhor contrapeso já inventado: você só pode ser guardião do templo da Deusa X por cinco anos uma única vez na vida. Pronto… Seja bom ou ruim, em cinco anos sai e parte para outra.
Obvio que não dá para mudar as leis de um pais para se atentar a isso. Vão surgir um monte de pseudo-defensores da democracia dizendo que se o povo quer o fulano de novo no poder, porque não colocá-lo. Mas a minha proposta é: Nunca vote na mesma pessoa duas vezes para o mesmo cargo. Parece tolo mas pense um momento comigo: as coisas estão como estão porque nós -o povo- as colocamos assim. (Obvio que uma boa teoria da conspiração acalma a consciência) As pessoas (e em especial certas empresas disfarçadas de partidos políticos) se perpetuam na teta da mãe pátria, apenas porque nós -o povo- os mantemos lá. Ai o que acontece se os candidatos não se elegem? a própria pseudo-empresa vai ter que achar outros candidatos pra preencher a vaga. Aos olhos deles, a culpa não é do povo que pensou por conta própria (ao final das contas, eles entendem que o povo não pensa pois se pensassem não teriam sobrevida) e sim do candidato. Isso vai levar a um desarranjo institucional interno e criar as condições para que um candidato mais apto (leia-se: com melhor capacidade de engano) surja e seja posto. Até lá, quem entrou no poder (Senado, Deputados, Presidencia, Camara dos Comuns, Sociedade de Futebol de Chapinha) vai -por uma questão de pura vaidade- tentar mostrar serviço. Para a próxima rodada, ele pode que seja ou não re-eleito -isso não interessa ao método proposto- mas o sistema como um todo melhora porque não há mais certeza sobre a manutenção da situação já que o povo pensa e usa a única bala que tem para matar o parasita e permitir que algum raio de luz ilumine a pilha de esterco na que nos metemos.
