Esperança em meio à angústia: Cristo como fundamento da dignidade e restauração humana.
Vivemos tempos de exaustão emocional coletiva. Ansiedade, depressão e solidão tornaram-se quase uma linguagem comum, falada em sussurros por quem teme ser julgado. O tema da saúde mental já não pertence apenas à psicologia – tornou-se também uma urgência espiritual. E a Igreja, se quer ser fiel ao Evangelho e de certa relevância na sociedade em que vive, não pode se calar diante do sofrimento humano.
Mantidas as proporções e a distância, existe um paralelo em como a sociedade judia tratava a lepra (e os leprosos) em tempo de Jesus e como nós – como Igreja – tratamos a saúde mental. E temos de tudo, mas geralmente, nada positivo ou construtivo. São poucos os exemplos que se permitem observar a fragilidade da existência humana e se escapam de soluções do tipo “tudo ou nada”. Ou seja: aquelas soluções que revestem de ares espirituais realidades mentais muitas vezes devastadoras.
É comum que a fala “suficientes em Cristo” a tiremos do ambiente soteriológico (ou seja, relativas à salvação) para colocá-lo em questões de ordem mental. Tão comum é isso, que para muitos parece uma afronta dizer que – em certos casos – é necessário o cuidado profissional e não basta apenas a oração.
A mente é o lugar onde se misturam pensamentos, emoções e reações do corpo. É como uma ponte entre o que sentimos, o que pensamos e o que fazemos. Quando algo se desorganiza — por dor, trauma, estresse ou desequilíbrio químico — essa ponte pode se quebrar. Assim como um osso se quebra, a mente também precisa de cuidado e tempo para se curar.
Recentemente uma colega de serviço foi atropelada enquanto dirigia sua moto. Quebrou a bacia, o fêmur em várias partes e teve fratura expostas. Óbvio que ela agradece as orações, mas com certeza a intervenção de um conjunto de profissionais da saúde é não apenas bem-vinda, mas essencial para a recuperação. Se não olhamos para a mente como olhamos para o osso, continuaremos a acumular culpa improcedente sobre quem padece e trataremos os profissionais da saúde mental como charlatães. Não é de estranhar que o movimento igual e contrario seja semelhantemente forte.
Karl Barth lembrava que o grito do homem aflito encontra resposta não em si, mas na revelação de Deus em Cristo. A esperança não nasce da autoajuda, mas da graça que se faz carne. Tillich chamou isso de “a coragem de ser”: continuar existindo mesmo quando o desespero parece mais real que a fé. É coragem de seguir, não por força própria, mas sustentado por uma presença que não nos abandona.
A saúde mental, à luz do Evangelho, não é ausência de dor, mas a presença de sentido. Jesus não prometeu eliminar o peso, mas compartilhá-lo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt.11:28). O alívio vem do encontro, não da fuga. Esse texto, por mais que pode ser usado em mensagens evangelísticas e faz muito sentido, na realidade é um chamado aberto a todos: aqueles que estão longe do evangelho e também os discípulos. Limitar ele a assuntos salvíficos, é diminuir sua potência de forma irresponsável.
É precisamente aí que a comunidade cristã se torna (ou deveria se tornar) um espaço de cura: quando deixa de ser tribunal e se torna abrigo. Quando acolhe sem rótulos, escuta sem pressa, ora sem impor fórmulas. O Cristo ressuscitado, como recorda N.T.Wright, inaugura uma esperança concreta – não apenas espiritual, mas que toca corpo, mente e criação. A ressurreição é o anúncio de que a dor não é o fim.
Neste Dia Mundial da Saúde Mental, o chamado é duplo: cuidar e ser cuidado. Romper o silêncio, acolher o cansaço alheio, e lembrar que a fé não é inimiga da terapia – é sua companheira (desde que seja uma fé saudável, vale dizer)
Finalmente, mas não menos importante: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido” (Sl.34:18) E nessa proximidade, nasce a esperança que não decepciona (Rm.8:18-25)
¹⁸ Eu penso que o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro. ¹⁹ O Universo todo espera com muita impaciência o momento em que Deus vai revelar o que os seus filhos realmente são. ²⁰ Pois o Universo se tornou inútil, não pela sua própria vontade, mas porque Deus quis que fosse assim. Porém existe esta esperança: ²¹ Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. ²² Pois sabemos que até agora o Universo todo geme e sofre como uma mulher que está em trabalho de parto. ²³ E não somente o Universo, mas nós, que temos o Espírito Santo como o primeiro presente que recebemos de Deus, nós também gememos dentro de nós mesmos enquanto esperamos que Deus faça com que sejamos seus filhos e nos liberte completamente. ²⁴ Pois foi por meio da esperança que fomos salvos. Mas, se já estamos vendo aquilo que esperamos, então isso não é mais uma esperança. Pois quem é que fica esperando por alguma coisa que está vendo? ²⁵ Porém, se estamos esperando alguma coisa que ainda não podemos ver, então esperamos com paciência.
Søren Kierkegaard, aquele dinamarquês de nome complicado que os manuais de filosofia apelidaram de “pai do existencialismo cristão”, dizia que a fé não era um cálculo seguro. Não era um contrato com cláusulas bem assinadas. Era um salto no escuro. Um pulo diante do absurdo. O que o sustentava não era a certeza de onde cairia, mas a confiança em quem o chamava a saltar.
Mais tarde, John Caputo, já no nosso tempo, resolveu complicar ainda mais. Para ele, a fé é “fé sem fé”. E o que significa isso? Que a fé verdadeira não é uma fortaleza de pedra, mas um vaso de barro que racha, quebra, precisa ser colado de novo e de novo. É fé que não se apoia na segurança das respostas prontas, mas que sobrevive às rachaduras, ao silêncio, à incerteza. É fé que se reinventa a cada passo.
Umas brutalidades
Costumamos pensar que a dúvida mata a fé. Mas a história bíblica insiste em nos lembrar o contrário. Abraão riu do absurdo de ter um filho na velhice. Jó amaldiçoou o dia em que nasceu. Tomé exigiu colocar o dedo na ferida. Nenhum deles saiu ileso. Nenhum deles saiu “herói” no sentido romântico. Mas todos, de alguma forma, atravessaram a noite e encontraram fé do outro lado.
Essa é a brutalidade da coisa: a dúvida não é inimiga, mas parteira da fé. Ela arranca as ilusões, desmascara a confiança no automático, obriga a reinventar a caminhada. A fé que nunca duvida é como notícia de rede social: fácil de repetir, difícil de confiar. A fé que passa pela dúvida, essa sim, é real — porque não depende do verniz da certeza, mas da confiança no Deus que permanece.
Uma reflexão
Na verdade, fé e dúvida não brigam como rivais mortais. Elas se encontram, se cruzam, até dançam juntas. O pai aflito que gritou a Jesus não sabia esconder suas rachaduras: “Creio, Senhor; ajuda a minha incredulidade” (Marcos 9:24). Eis o retrato mais honesto da fé. Não triunfante, não blindada, mas ferida e ainda assim viva.
É preciso abandonar a ilusão de que fé é ausência de rachaduras. Não é. É justamente ali, na rachadura, que a luz entra.
Conclusão
Portanto, se alguém lhe disser que dúvida destrói a fé, desconfie. Diga que a fé sem dúvida é caricatura. A verdadeira é a que sangra, a que se ajoelha no escuro, a que balbucia com vergonha: “Eu creio, mas ajuda a minha incredulidade”. Essa é a fé que sobrevive porque não se apoia em si mesma, mas naquele que a chama para seguir mesmo sem garantias.
O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo. Ela é dedicada à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental. A campanha busca quebrar tabus, incentivar o diálogo e apoiar pessoas em sofrimento emocional com ações em todo o Brasil: palestras, rodas de conversa, mobilização em redes sociais, etc.
O tema ganha destaque diante do aumento dos casos de depressão e ansiedade, especialmente entre jovens e adultos, e da necessidade de redes de apoio e acolhimento nas comunidades.
Assim como em tantas outras coisas, a comunidade eclesiástica local, parece que se sente imune a tais situações. Como se a fragilidade da saúde emocional fosse exclusividade do que não pertence à comunidade. Como se procurar ajuda psicológica ou psiquiatra fosse um sinal de falta de fé.
Na realidade, procurar ajuda é de por si um ato de humildade. Procurar ajuda especifica para manter, melhorar ou recuperar a saúde mental, é um ato de gratidão a Deus por ter dado ao Homem a graça de poder desvendar transversal e longitudinalmente as entranhas do emaranhado mental que é a existência.
Doenças mentais, automutilação e suicídio, fazem parte da fragilidade e da dor da existência humana. Muitos são os que se insensibilizam perante a própria dor com escapes de todo tipo, chame-se festas, drogas ou cultos religiosos. Necessariamente “ser humano” é estar exposto ao sofrimento.
Suficiência e necessidade
A grande armadilha de certas formas de fé cristã (promovidas a partir de pessoas que talvez não tenham parado para pensar no próximo nem nas ferramentas que o outro possui ou não) é de que “Cristo é suficiente até para a saúde mental”.
Se bem isso soa bonito e é uma verdade soteriológica essencial, o certo é que – assim como na santidade que não acontece por acaso e sim por dedicação do discípulo – a Bíblia recomenda “Levem os fardos pesados um dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo” (Gál 6:2) e também “Confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para que sejam curados” (Tiago 5:16) e também “Não andem ansiosos por coisa alguma … com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus … guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fil 4:6-7)
Agora, pense que você tem um acidente e quebra uma perna. Eu chego. O que devo fazer? Providenciar atendimento médico ou uma roda de oração para que seu osso seja restaurado?
A mente é como um membro quebrado. Precisa de atendimento especializado e não quem toque de ouvido. O conselho bíblico é essencial neste ponto: “Confessem os seus pecados uns aos outros” Por que escolhi esse texto dos que elenquei logo acima? porque é o mais sensível de todos e vai ajudar a mostrar um ponto essencial aqui: Você, confessaria seus pecados para qualquer pessoa na sua congregação? Óbvio que não. Iria escolher alguém que tivesse já algum tempo de ser bom discípulo, alguém que seja conhecido pela sua discrição e amorosidade no trato com os outros.
Ninguém deseja sofrer — exceto aqueles cuja saúde mental e identidade foram, desde a infância e por meio de diversos traumas, condicionadas a enxergar o sofrimento como algo normal e até desejável.
Partindo desse ponto, podemos enxergar a vida do suicida (e todas suas variantes menores como a auto-mutilação) com maior compaixão. A vida de oração, a amizade da comunidade, as atividades recreativas, exercícios e todo o mais é necessário e ajuda. Mas nada substitui um bom ouvido, um abraço e uma boa terapia.
Finalmente, mas não menos importante, a ressurreição de Jesus (que é o “primogênito dentre os mortos”) nos traz esperança. Não apenas para o futuro distante, mas para o presente concreto. Em outras palavras, a igreja tem um papel bem definido em ser espaço de acolhimento e restauração e não de condena e rejeição de certos indivíduos.
Neste mês de setembro, que seu cuidado para com os que sofrem seja fortalecido pela liberdade que você tem em Cristo — para indicar um bom psicólogo, assim como recomendaria um traumatologista a alguém ferido em um acidente.
Em uma era marcada por panteísmos renovados e espiritualidades fluídas, parece mais fácil venerar uma pedra que não exige, ou meditar diante de uma árvore que não confronta.
Há um apelo sedutor em se vincular ao que é tangível e impessoal. Uma rocha não chama ao arrependimento; uma árvore não ressurge dos mortos exigindo resposta pessoal. No entanto, o Cristo ressurrecto o faz.
Panteismo e pantanteismo
Enquanto o panteísmo dissolve o Criador na criação, e o pananteísmo o dilui em um “todo que é”, a fé bíblica insiste em distinção: Deus é transcendente e mesmo assim é imanente. Ou seja, é o Deus do mais além, inatingível, inaudível, imperceptível mas é o Deus que se manifesta na sua criação de uma forma bem geral e no homem – de forma particular – mas em Jesus (Deus encarnado) de forma especial.
Deus fala – e a criação escuta (Sl. 19:1). Ele sofre – e a criação geme com ele (Rom 8:22) Ele age – e nos chama a cultivar e guardar (Gn 2:15)
Eclipses ou semi-eclipses como o de ontem, são espetáculos celestes que evidenciam ordem e beleza – mas também limitação. Eles nos situam. A Lua não brilha por si, o Sol se esconde apenas por momentos, e nós, meros observadores, somos lembrados da nossa finitude e – paradoxalmente – da nossa vocação.
Revelação, Natureza e discipulado
Perante a teología liberal – na qual nada há de sobre-natural ou miraculoso e sim tudo é uma sequência de explicações meramente racionais – teólogos do tamanho da Karl Barth resgatam a soberania de Deus e nossa necessidade de revelação. A natureza, à que muitos descrevem com atributos divinos pessoais, faz parte dessa revelação geral, mas não é a revelação integral nem de forma alguma especial.
Já perante a insistente agenda verde grandiloquente, teologos contemporáneos como N.T.Wright nos convocan a ver em Cristo o primogênito da nova criação. Uma criação que – cabe esclarescer – não é para ser descartada mas renovada. Nesse contexto, cuidar da criação não é ideologia verde e sim discipulado.
O Chamado
Portanto, o verdadeiro maravilhamento diante da criação nos empurra para além da natureza. Ele nos chama à cruz, onde o Criador tomou sobre si a dor de criação ferida. O eclipse passa, a lua minguante cresce de novo – mas o Cristo crucificado e ressurreto permanece, convocando-nos à reverência, responsabilidade e esperança
Comecemos com um exemplo: o estilo musical e certa forma de arterioscleroses “espiritual” que todo grupo religioso vai desenvolvendo. Mesmo que a peça tenha sido elaborada no embalo de uma cerveja e sobre melodia comum em bordéis (como o caso de Castelo Forte) existe hoje uma certa sacralidade sobre esse hino específico, mas outro que possa vir a ser criado de forma análoga será automaticamente tido como mundano ou secular. Então, sob minha ótica, todo movimento religioso tende a uma rigidez mórbida no que lhe é mais essencial: sua forma de comunicação com a sociedade na qual a comunidade está inserida.
A preocupação última pode ser expressa e elaborada sob qualquer forma de manifestação: linguagem, marte, cultura, música, filosofia, desde que comunique algo do mistério da vida e do encontro com o divino. Se houvesse uma única forma de linguagem divina e inalterada “caída do céu”, deveria ser essa a forma adotada. E não é para isso que apelam os movimentos de resgate cultural de músicas em estilo judaico?
Necessariamente, por uma questão de simples comunicação com os seres humanos, toda linguagem religiosa é humana, que nasce da experiência histórica e cultural específica. Com isso, a linguagem usada para as “Vacas de Basã” precisa de ser interpretada e “traduzida” pelo pregador para obter o fim desejado: comunicação da mensagem. O mesmo acontece com a teologia ou os estilos musicais, ou os conteúdos. Precisam de uma tradução e não de manter uma tradição muitas vezes transplantada, e nada comunica – de forma direta – na cultura alvo.
A linguagem sagrada é simbólica, poética, expressiva, e serve para apontar para realidades que vão além da mesma. (Apontam para “o Transcendente” ou “o completamente outro”. Ou resgatando alguma coisa kantiana: extrapolam o imanente)
A citação, então, de Paul Tillich “Não existe linguagem sagrada caída de um céu sobrenatural para ser encerrada nas páginas de um livro. O que existe é a linguagem humana, baseada em nosso encontro com a realidade, em evolução ao longo do tempo, usada para as necessidades cotidianas, para expressão e comunicação, literatura e poesia, bem como para mostrar a preocupação suprema” reflete um ponto central de sua teologia da cultura: a linguagem religiosa não é mágica ou vinda do céu em estado puro. Mas é uma linguagem humana, moldada historicamente e usada para expressar aquilo que ele chama de “preocupação última” ou “preocupação suprema”. Isto é: o sentido mais profundo da existência.
Seguindo essa linha: a mensagem precisa “encarnar”. E isso não se faz com linguagem e problematizações de há seis séculos.
Pertenço a uma geração que se acostumou a ver as forças armadas (assim, como instituição centralizadora das três grandes forças) desfilando publicamente nas datas pátrias. Por um lado, e no momento, nos trazia um certo orgulho de ter ditos homens dedicados à defesa do país. Por outro lado, e com uma perspectiva histórica mais apurada, soubemos entender que – por trás daquela imagem de imponência – havia sórdidos usos exagerados do poder.
Seja como for, o fato é que todos os cidadãos compartilham um mesmo carinho pela palavra “pátria”. Que se bem, por um lado é um conceito abstrato e intangível, por outro se vê clara e nitidamente em coisas concretas como solo, constituição, cultura, língua e filhos (Uma leve menção a Nietzsche – “Onde está minha pátria? Onde não sou apenas cidadão, mas também pai, pois só aí começa a pátria.” em Assim falou Zaratustra e que me toca de maneira pessoal por serem meus filhos, todos eles brasileiros…)
Seja por ter caído num sábado. Seja porque não mais cultivamos certos valores por considerar-nos “avançados demais”. Seja por termos ojeriza às demonstrações de poder bélico. O fato é que este sete de setembro passou basicamente desapercebido. Foi só mais um final de semana que – se pelo menos tivesse caído em sexta ou segunda daria para chamar de “prolongado” – em nada nos chamou a atenção.
A não ser, claro, quando consideramos o lema “Brasil Soberano” enquanto manifestações políticas polarizadas tomaram as ruas com pedidos de anistia e debates sobre democracia e justiça.
Isso reflete a tensão em que vivemos com visões diferentes sobre soberania, justiça e reconciliação nacional. Esse debate sobre anistia e o papel das instituições democráticas, expôs as feridas e desafios do nosso Brasil.
Soberania de Deus e Reconciliação Humana
A neo-ortodoxia enfatiza a soberania absoluta de Deus em meio à fragilidade das instituições humanas (Barth) e a necessidade de reconciliação genuína, tendo o amor ágape como seu maior motor ou razão existencial (Nygren)
A cidade de Filipos recebeu o nome em homenagem a Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre o Grande. Mais tarde, porém, sua maior honra foi tornar-se colônia romana. Os que ali viviam não se orgulhavam apenas do passado conquistador de Filipe, mas sobretudo do privilégio de serem cidadãos de Roma. Não ansiavam por deixar Filipos para morar na superlotada capital; ao contrário, era justamente em Filipos que viviam plenamente sua cidadania. A cidade inteira era uma pequena Roma plantada na Macedônia, refletindo em miniatura a cultura, as leis e o prestígio da metrópole.
Em Filipenses 3:20 (carta escrita quase 40 anos após Filipos se tornar colônia romana) Paulo diz a orgulhosos herdeiros de duas grandes e históricas empresas militares: “Nossa pátria está nos céus“
Assim como o cidadão filipense não precisava migrar para Roma para ser romana, os cristãos não precisam fugir deste mundo para viver como cidadãos do céu. Eles são chamados a encarnar aqui e agora os valores do Reino de Deus, sendo embaixadores em uma terra marcada pela corrupção, idolatria e divisão.
Se nos afastarmos uns minutos das coisas que nos distraem, e dedicássemos esse tempo a sermos apenas observadores do quadro brasileiro, devemos ser honestos e notar que a sociedade está polarizada, alimentando ódio mútuo.
Outra coisa que precisa destacada, é que a tentação do cristão é ou se isolar (esperando escapar do mundo) ou se alinhar cega e tribalmente a um dos polos.
Porém, o chamado é outro: ser colônia do céu no Brasil, mostrar em nossas relações, trabalho e política uma nova forma de humanidade que não é marcada pelo rancor, mas pelo serviço, amor e justiça. Aqui cabe Nygren: o motor dessa nova humanidade não é o eros da busca egoísta ou da autopreservação, mas do ágape, o amor que se doa gratuitamente, sem esperar retorno, refletindo a própria natureza de Deus
N.T.Wright (de quem extraio o paralelismo de Filipenses) destaca que a verdadeira esperança cristã não está em sistemas políticos, mas na nova criação inaugurada em Cristo.
Aplicação prática diária:
Como a Igreja (não necessariamente a instituição eclesiástica) pode ser agente de reconciliação e esperança em meio à polarização
Algumas ideias: cultivar diálogo em vez de ódio, serviço em vez de autopreservação, e esperança em vez de cinismo político.
Dados recentes mostram que quase 80% das famílias no Brasil estão endividadas. E que as famílias brasileiras gastam 28% da renda com dívidas. Quase o triplo da média de países desenvolvidos!
O peso dos juros e o endividamento crescente geram ansiedade, desigualdade e sofrimento, afetando de forma especial os mais vulneráveis.
As teologias da libertação
Seja por puro desconhecimento ou por pérfida porfia, as teologias da libertação tentam atacar este problema desde um plano puramente humano e com uma lógica puramente marxista pintadas externamente de cristianismo.
Não que a luta deles não seja sincera, ou honesta, ou necessária. Mas que mistura dois elementos incongruentes como forma de apaziguar a consciência sem produzir os frutos que tanto dizem almejar. Ou será que, no fundo, estão perseguindo precisamente os frutos que declaram combater?.
Gramsci (que critica aspectos da aplicação prática do marxismo, não Marx em si), ao falar de hegemonia cultural, critica a ideia de transformação apenas por força bruta ou pela imposição direta da economia/política. Segundo ele, a mudança real acontece lentamente, no nível da cultura, da consciência e da moral coletiva. Ou – dito de outra forma – a revolução não viria apenas pela luta de classes armada, e sim pela conquista da cultura, da educação, da moral e da religião, complementando assim o manifesto comunista.
Libertação, Justiça e o Evangelho no Quotidiano Económico
Desprezamos a graça e o amor como forças fracas. E de fato o são, assim como a gravidade é de longe a mais fraca das quatro forças fundamentais da natureza (gravidade, força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca) e é por ela que as coisas não andam boiando ai à baila.
A graça de Deus confronta as estruturas opressoras e chama à responsabilidade social. Teólogos da estatura de N.T.Wright ressaltam que o Evangelho é a boa notícia para os pobres e oprimidos, e que a Igreja (ou seja, não a instituição e sim o corpo de Cristo) deve ser agente de justiça e solidariedade.
Como podemos, agora sim como comunidade local de fé e prática cristã, ser instrumentos de libertação e apoio prático aos que sofrem sob o peso das dívidas? Não será que a crítica de que tratamos das coisas do além, ou da eternidade em detrimento das terrenas e temporais não tem um fundo de razão? E não será que há um pouco de escapismo em pensar em salvação apenas da alma e para a eternidade? Talvez não seja o caso de enxergarmos nas dívidas uma forma prática e urgente de libertar os oprimidos desta geração?
Ao definir seu próprio ministério, o nosso Senhor cita o profeta e diz “O Espírito do Senhor está sobre mim … para proclamar libertação aos cativos…” (Lucas 4:18-19)
Mas também vemos que era uma questão ancestral já proclamada na Lei: “Proclamem liberdade na terra a todos os seus habitantes…” (Levítico 25:10)
E sem lugar a dúvidas era uma preocupação de alguns apóstolos logo depois da assunção de Jesus: “Se um irmão ou irmã estiver necessitado…” (Tiago 2:15-17)
Se há governos interessados em manter o povo escravizado pela ignorância financeira, não deveríamos nós, como igreja, ensinar a verdadeira liberdade que inclui também o uso responsável dos bens?
Qual foi a última vez que na sua igreja houve alguma aula de escola bíblica ou similar sobre educação financeira?
Há algo profundamente errado quando uma criança deixa de brincar cedo demais. O fenômeno da “adultização” infantil não é apenas sobre roupas inapropriadas, exposição a conteúdos violentos ou pressões escolares exageradas. É sobre uma infância sequestrada pela pressa do mundo — uma pressa que transforma filhos em miniaturas de adultos ansiosos e pais em espectadores cansados diante da avalanche de telas e discursos.
Robert Raikes – Fundador da Escola Bíblica
Antes um pouco de história.
Se tomarmos em conta a Idade Média até o início da Idade Moderna (Séculos V a XVII) observamos que a infância não era vista como uma fase diferenciada da vida. Assim que saíam da primeira infância, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura. Ou seja, usavam roupas semelhantes às dos pais, participavam do trabalho familiar (Tarefas domésticas, oficinas, campo, etc.) e a educação formal era restrita a poucos.
Com o avanço da pedagogia nos séculos XVII-XVIII, do pensamento iluminista e mais tarde de Rousseau, surge a ideia de que a criança é um ser em desenvolvimento, com necessidades próprias. A educação passa a valorizar o ritmo infantil e a infância começa a ser vista como uma etapa específica da vida.
É justamente nesse contexto que surge a primeira escola bíblica em moldes bastante parecidos com as atuais e cujo espirito faríamos bem em resgatar. Robert Raikes (o senhor na imagem anterior. Um anglicano leigo que era jornalista e filantropo) organiza a primeira Sunday School (Escola Dominical). O objetivo era educar as crianças pobres e trabalhadoras, ensinando-as a ler e escrever a partir da Bíblia. E isso acontecia aos domingos, pois as crianças passavam a semana em fábricas. Se bem era um projeto social e missionário, estava longe de ser proselitista. (Hoje temos um problema serio com isso, somos tão mesquinhos que se a pessoa não congrega, não damos ajuda. Uma vergonha)
Se avançamos para o século XIX com a sua revolução industrial, vemos que ela trouxe (a um ritmo alarmante para a época) sérias contradições. Crianças eram exploradas em fábricas e minas, mas, ao mesmo tempo, começaram os primeiros movimentos de legislação protetiva que eram contra o trabalho infantil na Inglaterra a partir de 1833. A escola pública obrigatória (final do século XIX) reforçou a separação entre infância e vida adulta.
Foi durante esse período que o movimento se espalhou rapidamente pela Inglaterra e depois pelos Estados Unidos e outras partes do mundo. Lentamente a ênfase passou de alfabetização para instrução religiosa sistemática. A primeira escola bíblica em solo tupiniquim foi realizada em 1855 em Petrópolis/RJ organizada por Sartah Kalley, missionária escocesa da Igreja Congregacional e esposa do Dr.Robert Kalley considerado um dos pioneiros do protestantismo no Brasil.
Finalmente, no século passado, se consolida a concepção moderna da infância como tempo de proteção, educação e formação. As roupas se diferenciam nitidamente, brinquedos e literatura infantil se multiplicam e convenções internacionais (como a declaração dos direitos da criança da ONU em 1959) cristalizam a infância como categoria própria
A adultização de crianças em solo tupiniquim
Vivemos num país em que, paradoxalmente, se discute tanto a proteção da infância e, ao mesmo tempo, se normaliza a exploração dela. As redes sociais transformaram crianças em produto. A publicidade lhes rouba o encanto da descoberta. O sistema educacional, muitas vezes, lhes impõe competitividade antes de tempo. E nós, famílias e igrejas, ficamos atordoados diante de um cenário onde o “deixai vir a mim os pequeninos” (Mc 10:14) parece ecoar contra nós como acusação.
A Escritura nunca romantizou a infância. Mas Jesus a ressignificou como metáfora da entrada no Reino: dependência, confiança e vulnerabilidade. A criança não é um adulto em miniatura, nem um projeto de consumo. Ela é dom de Deus, herança preciosa (Sl 127:3), chamada a florescer sob cuidado e disciplina que não provoque à ira, mas à vida (Ef 6:4).
A neo-ortodoxia de Barth e Tillich lembraria que não se trata de um problema moral isolado, mas de um sintoma da queda: nossa tendência de instrumentalizar o outro, inclusive os mais frágeis. N.T. Wright acrescentaria que a comunidade cristã é chamada a ser sinal do novo mundo de Deus, onde os pequenos não são explorados, mas acolhidos como protagonistas da fé.
Atitudes necessárias a partir do Reino
O que fazer, então? A primeira resposta não é política pública, embora ela seja necessária. É conversão comunitária: famílias que redescobrem o tempo da escuta, igrejas que não apenas “dão espaço” às crianças, mas reconhecem nelas mestres da fé. Um espaço onde brincar não é perda de tempo, mas sinal de eternidade; onde a formação não é pressão, mas cultivo paciente.
A pressa em fazer das crianças adultos cedo demais revela, no fundo, nossa incredulidade. Não confiamos no tempo de Deus, não confiamos no Reino que cresce como semente em silêncio. Transformamos filhos em fardos ou vitrines, quando deveríamos recebê-los como parábolas vivas da graça.
Se não nos arrependermos, repetiremos o ciclo: filhos cansados, famílias esvaziadas, igrejas sem infância. Mas se ousarmos, como comunidade, recuperar a infância — não apenas a das nossas crianças, mas a nossa diante de Deus — então seremos, de fato, “pequenos” no Reino. E ali, paradoxalmente, encontraremos grandeza.
Jesus era um mestre com as palavras. Repare, por exemplo, em como ele fazia uso das parábolas e em especial como elas faziam sentido para o grupo de discipulos ao passo que os outros ficavam – propositalmente – sem saber de fato do que se tratava. São como mísseis teledirigidos: eles tem um ponto específico que atingir.
Outra coisa das parábolas, é que elas nos fala de uma situação conhecida, mas distante de nosso convivio. Ou dito de outra forma: falava de coisas que eram assunto entre os ouvintes, mas nenhum deles poderia se sentir atingido ou apontado com o ensinamento já que “era sobre os outros”.
Então, por que não falar da situação na Ucrânia? É uma coisa conhecida – ao menos na teoria para os leitores tupiniquins – e ao mesmo tempo distante, que nos pode falar de coisas bem corriqueiras sem que por isso nos ofenda ou coisa assim.
A semana foi marcada por avanços e recuos militares na guerra de agressão que Rússia desenvolve contra seu ex estado vasalo, a Ucrânia. Também durante a semana houve um aumento das tensões entre EUA, Europa e Rússia. Se discutem sanções e acordos comerciais. Enfim, o cenário internacional permanece instável, com impactos sociais e econômicos significativos.
Como dizia Susanita da tão amada tira cómica de Quino nos anos 60 e 70 – Mafalda – “Menos mal que o mundo é tãaaao longe!”
Qual é a condição, as ferramentas, e o conteúdo da mensagem cristã em situações de agressão (Antes de responder, lembre da agressão do Hamas contra o estado de Israel e a resposta que este está tendo e a situação do povo palestino)
E essas condições, ferramentas e conteúdo, se pode aplicar a qualquer conflito? Ou é apenas para casos de geo-política? Será que há tanta diferença de um conflito armado a um espiritual? Ou de um militar a um civil? Ou de um civil a um familiar? Ou de um familiar a um pessoal?
Existe esperança.O que hoje se estima como desgraça, na realidade trata-se da grande graça. A esperança. Se bem é verdade o que alguém disse sobre a guerra “A primeira baixa é a verdade” também é certo que podemos afirmar que “a última sobrevivente é a esperança” sendo que – ao faltar esta – tudo está perdido pois esta sobrevive mesmo até o findar dos recursos e sem esperança, nem mesmo com recursos é possível achar uma saída ao conflito.Ucrânia, não apenas tem se mostrado resiliente como também tem se mostrado inovadora nas modalidades de defesa adiando o final da guerra para “poder lutar amanhã” até que o reforço do ocidente (tão obviamente necessário) se faça manifesto de forma incontestável.
O caos desafia toda esperançaO caos é anterior à criação. Na criação, Deus se opõe ao caos colocando paz y harmonia. O mundo tenta imitar a paz de Deus, mas não consegue evitar o caos ou lhe dar uma solução ou pelo menos uma explicação aceitável. Apenas levantar perguntas – muito boas por certo – mas sem uma solução palatável.A guerra – que como muitos dizem é o estado natural do homem moderno e é o que o distingue da humanidade anterior – traz o caos. A alteração brutal da vida comum. O sobressalto desnecessário no meio da noite. Os ataques inumanos contra hospitais, escolas, centros de detenção, centrais de energia termo-nuclear, reservatórios de água, etc…Ir para um estado de paz, requer mais do que boa vontade. E repare que não falei em “voltar” e sim em “ir”. Nunca mais a situação será a mesma. Mas há esperança e o caos não prevalece.Todavia, esse “não prevalecer” não é natural. Ou seja, a esperança por si só, não tem o vigor necessário para prevalecer contra o caos. E esperança está no impotente. Daí que só o potente pode – de fato – enfrentar o caos… como na criação.
A justiça como resposta ao caosO caos ocasionado por decisões de seres humanos, só pode achar seu cauce de vazão na justiça. Daí que a tão almejada paz não se alcance enquanto haja esperança, recursos e injustiça. Tire só um dos três pilares e os outros prevalecem. Como a esperança não pode ser tirada e a justiça não pode ser instaurada no atual estado de coisas, apenas resta aos que podem, retirar e ameaçar tirar os recursos. Que sobra: esperança e injustiça. E isso é receita para o fraticidio a longo prazo.Então a justiça (os oblast de Ucrânia ocupada precisam voltar a serem da Ucrânia, os crimes de lesa humanidade precisam ser julgados, etc) precisa prevalecer. Ou, dito de outra forma, a mentira inicial que deu o “amparo” moral que Putin precisava, precisa ser escancarada. (Assim como precisaria a mentira que levou ao segundo ataque ao Iraque no final dos noventa)Sem justiça, a paz não tem como existir quanto menos se sustentar.Talvez por isso que “justificados … temos paz” Romanos 5. Ou seja, endireitados temos paz com Deus.
Agora, avaliemos outros conflitos antes de apressar-nos com as conclusões. Pensemos em outros conflitos como o caso do Iran contra o resto do mundo. Ou da Cachemira, ou de China contra Taiwan. Ou da Rússia contra o Japão. Ou dos EUA contra o restante do mundo comercialmente.
Pode encontrar sempre esse mesmo tripé.
Mas pensemos em situações familiares, ou de casal. Sem justiça, não há como florescer a paz e a esperança e os recursos vão definhando até não ser possível uma reconstrução. É facil se sentir injustiçado. Dificil é promover a justiça quando isto tem prejuizo próprio.
Porém, se observarmos mais fundo, pessoalmente também há esse estado caotico da alma humana com seu criador e – a partir disso – com outras criaturas e com a natureza, mas pior que tudo, consigo mesmo o ser humano está em constante rebeldia e dessassossego.
Lamentavelmente, por mais que os livros de auto-ajuda indiquem o contrário, você não pode – por esforço próprio – conseguir estar em paz com seu Criador e – por conseguinte – com você mesmo. É uma questão de tempo até que as rochas afiladas do fundo do seu rio, apareçam depois das aguas do esforço proprio vazarem e derem lugar à realidade.
Me acompanhe só mais um minuto… De um plano distante como a Ucrânia, em que nos resulta bastante fácil dar palpite e formar opinião, fomos avançando até chegarmos ao cotidiano e pessoal.
Em certo sentido, lhe vai parecer risível a proposta que vem, mas na realidade ela é poderosa demais para que seja levada a sério pela maioria.
A nossa situação se parece com os rebeldes dos oblast da Ucrânia: ajudados por um poder externo, atacam a própria nação. De igual forma, ao aceitarmos a invasão em âmbito pessoal das ideias, principios, regras de convivio, valores dúbios, auto-indulgencia, etc, o que estamos fazendo – em território pessoal ou familiar – é convidando um poder muitissimo maior do que nós para nos respaldar em nossa rebelião. Repetimos a história do Eden. Daí que Paulo diz “todos pecaram e estão destituidos da glória de Deus”
E aí que vem a solução que para o mundo é chamada de “maldita” pois lhes parece loucura. (E não lhes poderia parecer outra coisa)
O que foi que Deus fez quando a rebelião alcançou seu auge? Qual era o plano desde antes da criação do mundo? Conforme diz a segunda carta aos Coríntios, “Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2Cor. 5:18-20)
A reconciliação que Deus fez conosco (a custo da vida do próprio filho) não pode ser tido como um exemplo apenas, mas sim como uma razão de ser. Ou seja, a reconciliação (mesmo com custo pessoal) faz parte do ser cristão. O novo homem partilha da responsabilidade (glória) da nova criação e participa assim dos sofrimentos do Cristo ao estender a mão da reconciliação para quem – como nós – não a merece.
Graça sobre graça de forma prática. O Reino de Deus pode ser visto como o grande projeto de reconciliação de Deus com a raça humana. Veja bem, não é o homem que se reconcilia com Deus, é Deus quem reconcilia o homem com seu Criador.
Como que isso afeta o panorama mundial. Bem, primeiro que não há nada que não seja espiritual e isso fica de manifesto em guerras, epidemias, e todo tipo de catástrofe. O mesmo vale para relações familiares ou para nossa vida pessoal.
Essa conexão é facil de demonstrar: não interessa se o sistema que domina um país é democratico ou autocratico, todo governo teme à opinião do povo pois quando o povo se levanta, muitas coisas mudam de forma repentina. Sim, sei que também essas mudanças não conseguem se suster por muito tempo e o povo se evapora assim que a mudança é realizada dando lugar a outro esquema (geralmente tão ruim quanto o primeiro) contanto prometa algumas mudanças que atingem a massa.
Bem, seja como for, há uma realidade espiritual conectada à nossa realidade “humana”. Ou dito de outra forma: os gregos estavam certos em fazer uma tricotomia do ser humano: alma, corpo e espirito. Os judeus estavam certos em sua dicotomia. Os orientais estão certos em observar que há algo para além do físico. Enfim.
O ponto aqui é que o que a igreja proclama, tem um peso importantissimo mesmo a miles de kilometros de distância (sem por isso diminuir ou eliminar a reponsabilidade e as possibilidades pessoais que há in-situ).
Se a igreja para de idolatrar ou demonizar a esquerda e a direita, ela fica livre para assumir seu lugar na história. Qual lugar é este? Do lado da restauração da imagem de Deus na sua Criatura. Como se consegue isso? Por meio da mensagem da reconciliação.
Veja. Não há nada tão importante como a superação do caos. Deus não é a fonte do caos. Logo, a superação do caos, é a constante do Criador. Todavia, em sua liberade, o ser humano tem escolhido (e escolhe regularmente) ir contra seu criador.
Mas Deus, o deus que se revela na Bíblia, é soberano sobre a história. Nada há que se escape do controle dele. Não é possível ele concordar com o que o homem – em seu desejo por se afastar do Criador – escolhe. Logo, é a Igreja a encarregada de fazer sua parte do serviço aqui na Terra. E para isso, deve anunciar a mensagem que é o cerne da restauração do Criador na Criatura: a mensagem da reconciliação.
Ucrânia e Rússia enfrentam uma guerra fraticida. Compartilham centenas de anos de similaridades culturais e religiosas. Mas se matam entre eles. É obvio que parece uma mensagem fraca (e talvez por isso me detive a explicar o por quê a justiça é necessária para alcançar a paz e não ao contrário), mas a mensagem que a Igreja tem é a de reconciliação. Ou seja, o que é sinal mesmo de justiça e paz após o conflito? A reconciliação.
O mesmo vale para as familias, o mesmo vale para os casais, o mesmo vale para o individuo em sua rebeldia com Deus.
Está você em rebeldia com Deus? Acha que a solução para o Hamas é apenas bala e vala? Então é melhor começar a se arrepender.
“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” Mateus 5:9
A ideia de que a comunidade religiosa deve ser um lugar de descanso e comunhão é algo que ecoa profundamente em nossos corações. No entanto, muitas vezes, essa realidade se distancia da prática cotidiana. A frequência no templo, embora seja um aspecto importante, não deve se limitar a uma rotina sem significado. É necessário que o espaço de encontro com Deus e com os outros seja leve, respirável e humano, onde as pessoas possam se sentir acolhidas e apoiadas.
A Visão Bíblica
A Bíblia nos apresenta várias passagens que destacam a importância da comunidade como um lugar de apoio e descanso. Em Mateus 11:28-30, Jesus diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” Essas palavras nos lembram que a comunidade deve ser um refúgio para os cansados e sobrecarregados.
O Templo como Espaço de Encontro
O templo, ou a igreja, deve ser mais do que um local para cumprir uma obrigação religiosa no domingo. Deve ser um espaço onde as pessoas possam se encontrar com o povo de Deus de maneira autêntica. É um lugar onde se pode descansar, sem a pressão de fingir que tudo está bem quando não está. Em Hebreus 10:24-25, lemos: “E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e às boas obras; não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns, mas exortando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se aproxima o dia.“
A Comunidade como Refúgio
Para que a comunidade alcance sua finalidade proposta, é essencial que seja um lugar onde as pessoas se sintam livres para serem elas mesmas. Deve ser um ambiente onde se olha no olho, se escuta sem pressa e se abraça sem medo. Em Gálatas 6:2, Paulo nos lembra de que devemos “carregar os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Isso significa que a comunidade deve ser um lugar de apoio mútuo, onde as pessoas se sentem seguras para compartilhar suas lutas e alegrias.
Exemplos e Ações Pontuais
Para tornar a comunidade um espaço de descanso e comunhão, podemos adotar algumas práticas simples, mas significativas:
Grupos de Apoio: Criar grupos onde as pessoas possam compartilhar suas experiências e receber apoio emocional e amparo espiritual.
Atividades Comunitárias: Organizar atividades que promovam a interação e o laço entre os membros, como refeições compartilhadas ou projetos sociais em que a fé tome forma apalpável.
Ambiente Acolhedor: Transformar o templo em um espaço acolhedor, onde as pessoas se sintam confortáveis e à vontade mas sem por isso se sentirem confortáveis com seu próprio pecado. Aliás, é na comunhão da igreja local apenas que se encontra essa mistura poderosa… esse dynamis ou poder-em-ação de Deus.
Mensagens de Esperança: Focar as mensagens religiosas em temas de esperança, amor, aceitação, cura do pecado, redenção.
Mensagens de Transformação: Deus é o primeiro interessado em acolher e receber para uma posterior transformação. Acolhimento sem transformação é apenas “afofar a consciência”. O evangelho é uma mudança radical: uma nova consciência.
Conclusão
A comunidade religiosa deve ser um lugar onde as pessoas possam encontrar descanso, apoio e comunhão verdadeira. Para que isso aconteça, é necessário que o templo seja um espaço leve, respirável e humano, onde todos se sintam acolhidos e apoiados. Ao refletir sobre a importância da comunidade como um refúgio, podemos trabalhar para que ela seja um lugar onde as pessoas possam se sentir livres para serem elas mesmas, sem medo de julgamento ou cobrança. Ao mesmo tempo, é onde o amor leal pode ser mostrado. Deus aceita e transforma. Esse é o âmago.
Alinhados com esse propósito de transformação plena, a frequência no templo se torna uma experiência de comunhão e não apenas uma rotina sem significado.